20 abril 2016

O livro vermelho que o Politburo do Dragão deve ler (2)

Este foi um anúncio criado por Peter Drucker para ironizar, há 40 anos, com o gestor-tipo necessário para uma empresa americana. Está lá o que se pede, oferece e rejeita. Com benefícios mas muitas exigências. "Membro profissional", "aplicação de carimbos", "elaboração de políticas". E restrições a certos potenciais interessados. Como é explicado em "Um ano com Peter Drucker",  por um associado, Joseph Maciariello, numa edição portuguesa (Março), a gestão de empresas na América começou, há um século, por ser dos próprios proprietários para passar, em 20 anos, para entendidos, gestores profissionais. Drucker (1909-2005), austríaco emigrado nos EUA em 1937 com passagem por Londres antevendo o perigo do nazismo (Anexação de 1936 da Àustria pela Alemanha), faz a história da Gestão (termo cunhado em 1911, precisa) com o exemplo de J.P. Morgan, o banqueiro que gostava de dinheiro mas não esbanjava à toa nem premiava gestores além de um limite e muito menos aceitava pagar a incompetentes.
Pinto da Costa pode apreciar as práticas e ideologias comunistas, ao arrepio das verdades e factos da história que fez a razia de todo esse manancial de demagogia e sepulcro de pobreza endémica. Mas a evolução humana ancorou-se, primeiro, em valores religiosos que Pinto da Costa conhece mas são alheios a ideologia extremista ou só amaciada de delírios tautologicos de Esquerda tola; depois, a Humanidade cresceu, apesar do obscurantismo religioso extremo, com a riqueza produzida (vulgo capitalismo) e o mecenato que libertou as Artes e criou os períodos inovadores, do pensamento à tecnologia. A América dá exemplos de vida e fortuna, ao contrário da URSS e sucedâneo que retomou antigo nome é oligarcas em vez de kulaks. Mas é preciso ter cultura acima da média e dominar várias áreas de conhecimento, algo ao alcance de todos, hoje, na era da Informação, mas é sempre preciso esforço - e retenção de saberes, melhor se forem aplicados e ensinados até...


O problema do FC Porto é não entender a teia em que se enredou. O tempo da luta foi um, impulsionado por Pedroto, e foram duas décadas de luta intensa para começar a hegemonia. Pinto da Costa emergiu à frente desse combate político, num ambiente económico e regulamentar próprio mas que hoje não é igual.
O FC Porto falhou em Gestão pura, em avaliação financeira e de recursos, em aplicação de políticas activas (como pede no anúncio de Drucker), em adequar a estrutura ao crescimento do clube, em pub e mkt, em comunicação e actualização de processos, a falhar o acompanhamento de mercados e oportunidades - tudo na última década em que afrouxou a luta e claudicou em posicionar-se nos centros de poder, acabando, como se ouviu agora, de perder a batalha.
Está declaração fulminante de derrota devia obrigar a perguntar PORQUÊ e saber-se a razão da AUSÊNCIA DE LUTA, o tal "coiso" que era o ADN do FC Porto. Por isso, sem exemplo de cima, a equipa claudicou e os adeptos viram-se sem líder ou general na BATALHA!
Pelo meio, com o advento das SAD, a equipa dirigente do clube, amadora, tornou-se subitamente profissional. J.P. Morgan não admitiria isto. Drucker conta histórias dos grandes da América: Henry Ford, crente na invenção do seu modelo T, em 20 anos tinha sido ultrapassado pela concorrência e só uma Gestão profissional permitiu retomar o topo e devolver à sua marca a primazia e a grandeza.
Pior no FC Porto: começou a confundir o Conselho de Administração da SAD com a Direcção do clube. Depois criou a figura do CEO. Sempre as mesmas pessoas, nenhuma profissional em Gestão, amigos de todas as horas mas sem estudos, sem preparação, sem capacidade de gestão que, de resto, nem o presidente tem. Este é o drama e a RAZÃO do fracasso, agravado com a percepção franca de, afinal, ali não se perceber tanto de futebol como era admitido, divulgado, insensato. Nenhuns princípios e práticas adoptados a não ser adequar contabilidade e balanços, únicas coisas sujeitas a auditoria e obrigação ainda que mínima, de informação pública. E quem tem deixado a SAD? Os responsáveis pelas finanças, Fernando Gomes e, duas vezes, Angelino Ferreira (uma para acompanhar o novo estádio)... Por sinal, saídas com acrimonia, como ainda agora se viu com este, prosseguindo uma guerra latente com o primeiro - os tais Estados de alma e questões pessoais que o ex-dirigente Nuno Antas de Campos notou em O Jogo.

Ainda hoje sócios e adeptos do FC Porto não percebem que no futebol profissional não são stockholders/accionistas para influenciarem decisões, são stakeholders/participantes que devem ser considerados por entre fornecedores, patrocinadores, distribuidores, funcionários,  empresas, comunidade em geral onde se insere. Muitos sócios julgam-se clientes e outros não. Bastantes pessoas passaram a confundir a SAD com o clube e o negócio com a prática desportiva, o móbil do negócio, a obtenção de lucro ou a obtenção de títulos. A confusão é do tamanho dos interesses misturados e das águas não separadas entre entidades distintas - mas sujeitas a relações de sociedade e transferência de activos como o estádio e fluxos financeiros -, tudo, tudo sem distinção de aparelhos administrativos e avaliação de poderes e de fracassos. E, no fim, percebe-se que ninguém é punido, mas prémios e mordomias começaram a causar incómodo nos adeptos e sócios, à revelia do pensamento de Drucker e da prática de J.P. Morgan.
Ou seja, em resumo, princípios de liderança e gestão profissionais estão em causa, sem que a responsabilidade e vencimento correspondam punições e culpados - como numa empresa normal.
Não admira que Pinto da Costa aprecie práticas de gestão dignas do PCP, sendo que se comporta como a esquerda caviar, cheia de proclamações fáceis mas usufruto do melhor da sociedade consumista e luxos do capitalismo.
A moralidade de pacotilha é esta, não faltam chico-espertos por aí, de líderes partidários a comentadores políticos, mas por alguma razão os grandes clubes, não só o FC Porto, passam mal, mas a generalidade de empresas e negocios carecem de gestão profissional, em Portugal,  medição de resultados, avaliação de performances e justificação de modelos e administrações.
Dos aspectos gerais iremos aos particulares, da definição de liderança e carisma à verificação de exemplos, êxitos e medidas.
Sim, porque o futebol é golos e emoções, mas uma actividade humana que tem regras de gestão e accountability como uma empresa normal. Seja para gerar lucros ou só de âmbito social. A SAD no primeiro caso não tem forçosamente de gerar lucros, mas deve cuidar de factores de rentabilidade e sobrevivência: solvência em resumo. O clube de dinamizar o desporto e desenvolver modalidades.
Mas qual é o negócio e quem são os clientes? As pessoas não sabem. Os administradores não querem saber, mas deviam.
O FC Porto foi ultrapassado num tempo em que os seus responsáveis não estão à altura das responsabilidades e das exigências. Não se preparou para cimentar a hegemonia alcançada, apenas cristalizou prática amadora num círculo de amigos íntimos do presidente. E há quem tenha ficado animado com proclamações abstractas, amplos lirismos repetidos sem verem que o museu, como o armário, tem esqueletos em vez de títulos e amigalhaços em vez de gestores.


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