14 julho 2014

Profecia de Bilardo vale meio Guttmann

"Dejaré que me incule el que haga Argentina campeona", profetizou um dia Carlos Bilardo, técnico que levou a Argentina ao título mundial em 1986 e à final de Roma de 1990, ambas com a RFA. Esteve para suceder o fim da maldição, numa bem organizada Argentina que teve claras ocasiões para ganhar à Alemanha, mas já vai em 28 anos o jejum argentino, pouco mais de metade da famosa profecia de Guttmann sobre o Benfica triunfador na Europa.
 
A Argentina tinha certamente a melhor linha avançada do Mundial. Mesmo com Aguero a meio gás, ter Lavezzi e Higuain na frente apoiados por Messi é garantia de sucesso, de resto complementados por di Maria: enquanto jogou foi o maior desequilibrador e fez muita falta nesta ponta final do Mundial. Porém, foram dois jogos sem golos a fechar o Mundial, o que não deixa de marcar o jogo argentino feito de muito futebol atrás e esticões na frente. Messi foi mais nº 10 agora do que foi em 2010 com Maradona, mas creio que voltou a jogar demasiado longe da área e talvez o peso do jogo mais fechado defensivamente tenha passado a factura: em quatro jogos a eliminar, a Argentina teve de ir a prolongamento em 3 e só a custo evitou outro desempate por penáltis com a Suíça. Não foi a equipa mandona que a categoria dos seus avançados exigia e se Messi jogou mais recuado foi possivelmente por não haver médios de génio para lançarem os homens da frente. De resto, o técnico Sabella não só mudou frequentemente a equipa, o que denota insegurança e indecisão sobre o 11 e a forma de jogar, como alterou significativamente todos os sectores, acabando por melhorar progressivamente mas sempre com uma tracção atrás que atraiçoava um pouco o dinamismo dos homens da frente. Digamos que foi como Bilardo, muito fechado e organizado defensivamente à espera que Maradona fizesse tudo do meio para a frente: fez em 1986 no México, ajudou em 1990 em Itália mas foi insuficiente e já não estava nas melhores condições e, de resto, a equipa era medíocre até chegar a Roma.
 
Pareceu, de resto, que Sabella olhava muito para os nomes, daí punir Enzo Perez com a substituição quando não se justificava. A ter de sair alguém era sempre o médio do Benfica, aquele que desde o primeiro jogo se percebeu que faltava no meio-campo argentino pela sua força, mobilidade, disciplina táctica e atrevimento ofensivo. Enzo, tal como Garay e Rojo, estiveram muito bem durante todo o Mundial em que os dois defesas foram titulares indiscutíveis com forte poder de marcação.

Sem comentários:

Enviar um comentário