30 abril 2014

A importância de um treinador

Que o Real Madrid, semifinalista vencido nas últimas três edições da Champions todas com Mourinho, tinha mudado a forma de estar em campo era evidente já a meio da época. "Carlo lo há cambiado todo, la mentalidade, todo", sintetiza agora Cristiano Ronaldo.



 
Ancelotti, que repõe o jogo zonal puro do seu tempo de jogador do Milan de Sacchi (88-90), fala em "partido perfecto". Arriscou demasiado e foi feliz com o Borússia Dortmund, não merecia o 3-0 de casa e teve sorte no 0-2 da Alemanha. Podia ter saído eliminado.
 
O Bayern tinha perdido tudo em 2012 com Heynckes e ganhou tudo em 2013 com Heynckes. Da infelicidade com o Chelsea em casa na final estupidamente perdida à sorte nos momentos decisivos um ano depois em Wembley na final alemã com o Dortmund.
 
Há dois anos, o Bayern foi muito superior ao Real Madrid nos dois jogos e só passou nos penáltis, a forma que desgraçadamente não evitou depois com os ingleses. Mas teve chegada à baliza e uma característica atlética, reforçando o lado mental ou derivando deste, que subjugou  a equipa de Mourinho.
 
Na época passada, foi a pujança física e a fortaleza mental do Borússia Dortmund que aterrou o Real Madrid de Mourinho. As mesmas características genéticas que fizeram o Bayern tremer depois em Wembley.
 
O Bayern de Guardiola perdeu o seu elã nas últimas semanas: cinco derrotas em dez jogos e as dúvidas cresceram. Por isso, Beckenbauer, ex-jogador e de há muito presidente, ex-treinador igualmente campeão da Europa e do Mundo, sabe do que fala sobre a "decepção imensa" a despeito da sinalização anterior dos problemas que afrouxaram o ritmo da equipa.
 
É certo que a baixa de Thiago Alcântara, que Pep sacou de Barcelona, pesa na criatividade do meio-campo do Bayern e é responsável pelo abaixamento recente agora tão penalizado. Mas deixar Götze no banco nesta semifinal foi catastrófico, enquanto se via o eixo do jogo bávaro perder-se em lateralizações como se em vez de Schweinsteiger e Kroos estivessem Defour e Herrera, com maus passes se lograrem evitar a lateralização. Restou a fluidez nos flancos, mas Ribéry e Robben foram tapados por Carvajal e Coentrão. Schweinsteiger é um panzer mas ontem parecia um bidão atolado. Idem para Dante: há uma imagem incrível da 1ª parte em que o central brasileiro foi à área madridista, perdeu a  bola e ele acorreu a passo estugado mas esbaforido e parou ao chegar à sua metade do campo, passando a custo a linha divisória enquanto o pânico era semeado pelo lado de Lahm, desguarnecido - ao passo que Bale ajudava Carvajal e di Maria a Coentrão - e, veterano, incapaz perante a velocidade de CR7 e di Maria.
 
Guardiola tem razão: foram "puramente futebolísticas" as debilidades do Bayern, a quem faltou pernas e pulmão característicos dos teutónicos normalmente avassaladores em casa: quis ser seguro atrás sem o ser e sem render à frente. Com mais dificuldades e menos apetrechos, o Dortmund vingou cara a eliminação e fez tremer o Madrid. Klopp perdeu e vai perder jogadores influentes, mas o ADN do futebol alemão continua lá, tal como estava com Heynckes há um ano, há dois anos. Klopp preferiu perder "da maneira mais bonita num milhão de possibilidades de ser eliminado". Guardiola só podia assumir as suas responsabilidades.
 
A diferença do Bayern e do Madrid notou-se na mudança dos treinadores. Sem dúvida. É natural que nas redes sociais se brinque com a situação.

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