23 dezembro 2013

Pinto da Costa feito num "31"

Vou alongar-me só um pouco, tentando ser sucinto e porventura incompreendido no processo ou não atingindo de todo o objectivo, mas as histórias devem ser comentadas seriamente com algum rigor e especialmente com verdade, pois ninguém pode julgar um texto por ser curto ou longo, como aqui e através da reflexão que nos merecem estes links, já foi traduzida a confusão reinante e um certo modus faciendi que só corresponde ao descrédito em que a Imprensa em geral se afundou tentando fazer mais com menos o que raramente é verosímil e ainda menos alcançável a não ser um Nobel da Química, da Literatura (mais difícil) ou do Desenrascanço.

Mas como a bola por cá parou - e o FC Porto meteu-se em férias voltando a menosprezar uma participação na taça da treta mas numa conjuntura desfavorável em que não pode dar parte de fraco com o leão a rugir sem mandar mas de juba cheia e moral em alta, sendo de antever problemas em Alvalade - e há tempo para ler entre os jogos da Liga inglesa que entram no quente período do Natal, aí vai uma coisa circunstanciada e desapaixonada, que estas coisas não me pelam.

De resto, é preciso coragem de enfrentar sem tibiezas nem tabus, esqueletos no armário ou preconceitos vários o que a realidade e a actualidade nos oferecem. E embora considere que se o coração está fraco a cabeça está mais para menos que para mais, - há frases que dizem tudo mesmo expressas com o sentido contrário ao jeito de nem com a mentira me enganas e a demagogia não tem dividendos sempre em política - também percebo que não é a biografia de Pinto da Costa mas sim, o que interessa, o fundo das suas decisões de presidente. Como ele as elenca, por assim as considerar, vou ao desafio e, de novo, não alinho na "tribalização" a que um ou outro confrade da bluegosfera resumiu face ao antagonismo suscitado pela reacção de Octávio Machado. De resto, nem é este tipo de leitura que me atrai no futebol e muito menos no resto que nos ensine e informe.

Para os que nele vêem um Deus na terra do futebol, Pinto da Costa podia fazer-se adorado dando-se ao contacto com os vulgares mortais que o adoram e deixar-se tocar, além de com eles falar, pelos adeptos mais fiéis ou simples passantes. Vide as euforias nas visitas a Casas do FC Porto. Infelizmente, tendo-se tornado um Sócrates (portuga e reles) com a diferença de ter ganho coisas importantes ao invés de reconhecimento na Comunicação Social que adulava o ex-Primeiro-Sinistro e despreza o maior presidente de clubes portugueses, Pinto da Costa faz agora de Mário Soares, com disparates e aleivosias várias que escondem os seus interesses mesquinhos e pequeninos dos grupos de interesse gravitando à sua volta.
 
Há dias toquei ao de leve na saída de António Oliveira do FC Porto, desvirtuada ou falseada por Pinto pude espreitar das suas "31 decisões" agradecendo aos Anónimos Portistas como eu confirmei algumas, a que de algum modo assisti, e torci o nariz a várias, sendo que muitas são irrelevantes. De qualquer modo, atendendo à sua áurea e à retumbância inegável dos seus êxitos, Pinto da Costa podia erguer a onda do sucesso mas não sabe e não o aconselham. Enquanto o FC Porto empalidece, em vez de fazer crescer a onda de suplantar o Benfica em títulos, Pinto da Costa envelhece sem préstimo, caindo em contradições.

da Costa no seu recente livro que os basbaques, ou simplesmente curiosos, vão comprar. Pelo que

"Não foi uma surpresa, como conta, ao que consta, Pinto da Costa numa das suas alegadas "31 decisões" presumem-se que todas boas e verdadeiras. Antes de a época terminar já a SAD questionava se Oliveira devia sair e a maioria inclinava-se para a saída. Foi noticiado atempadamente e, como era hábito, aquilo caiu como "uma bomba".
 
A verdade é que Oliveira saiu porque piorou o futebol portista. Mesmo ganhando campeonato e taça. Aliás, perdeu 5 jogos no campeonato... A equipa regredia visivelmente. E, talvez antecipando a saída, Oliveira disse que tinha problemas pessoais (mulher doente) que não o impediram de começar a nova época no Bétis, onde voltou então como treinador mas não por muito tempo.
 
Oliveira ficou com o melhor e o pior registo do FC Porto na Champions.", escrevi há dias.
 
Agora é Octávio Machado que, justamente, "destroca" o caso Jardel, outra das tristes decisões da gestão de Pinto da Costa quando o ex-goleador portista não voltou ao FC Porto apesar de ter chegado ao aeroporto do Porto. Nunca entendi bem a verdade, as acusações foram recíprocas mas sempre percebi uma coisa: Mas também nada do que é dito agora é novo, pois Octávio prestou-se a esclarecer o tema logo no dia em que saiu das Antas.

Nem Pinto da Costa nem Octávio Machado fizeram o suficiente para Jardel voltar a vestir de azul-e-branco. Isso é uma certeza absoluta e as culpas são repartidas, mesmo que eu conclua que Pinto da Costa teve a maior fatia de culpa porque, sendo omnipresente e omnipotente, como um Deus, devia fazer valer a sua ideia e decisão como fez, e diz que fez, valer em muitas ocasiões. Como reconheço a Pinto da Costa mais qualidades do que muitos acólitos dizem atribuir-lhe, tive sempre para mim que se o presidente quisesse Jardel vinha, como vieram outros porque ele tem sempre a última palavra e lá saberá o que é bom melhor do que qualquer um, dizem sem justificarem quando dá jeito atribuir-lhe o sucesso das apostas - como agora Carlos Eduardo, pelo visto, esquecendo-se as capas em que a "aposta" foi em fulano e beltrano mas que não rendeu - mas não as públicas apostas claramente falhadas. Voltando a Jardel, em vez de difusas e confusas declarações a sacudir a água do capote, nem sempre se pode afirmar que decidiu ou confiou na sua convicção.
 
 
Ora, já houve muitas ocasiões para Pinto da Costa ficar calado. Aproveitava a onda ululante dos seus admiradores, dizia uns dichotes e cumprimentava de mão e andava aí como herói. Às contradições internas significativas que ameaçam o futuro da gestão da SAD após a sua retirada e/ou morte, Pinto da Costa semeia ventos sem convicção e cria tempestades escusadas. O futuro é sombrio, com esta perspectiva de líder que, para cúmulo, se demite de "indicar um sucessor", embora se perceba como seguirá a Dinastia do Dragão.
 
Sobre o caso Jardel, um dos maiores enigmas e uma das derrotas deste século do FC Porto que tão perto esteve de ser evitada mas egoísmos parvos goraram a possibilidade de êxito, Octávio já havia dito uma coisa que creio inédita, pois nunca ouvi falar e duvido que alguma vez tal tivesse vindo a público.
 
Que Adelino Caldeira teria ido a Istambul buscar Jardel, que estava de saída do Galatasaray.
 
Agora, Octávio pegou no que vem no novo livro de Pinto da Costa e massacra impiedosa mas justamente a "decisão" e a "razão" do presidente.
 
Conta Octávio que Pinto da Costa defende, no livro, ter sido intenção do então (2001) treinador portista "jogar em 4x4x2 com Clayton e Domingos no ataque".
 
Acho estranho, pelo que me recordo, pois a referência de ponta-de-lança era Pena, o nº 31 que criou bom impacto quando chegou ainda com Fernando Santos no cargo e precisamente para substituir Jardel. Pena tornou-se goleador e resistiu até à saída de vários brasileiros acusados de boa vida e má conduta, como Esquerdinha e Rubens Júnior.
 
De qualquer modo, Octávio chama a atenção que não só Domingos não fez parte do plantel 2002-2003, como "passou a treinar a equipa B". Facto.
 
Lamentavelmente, ainda, lembro que, depois de Pizzi, foi o tempo de chegar o inválido Esnaider e o plantel esfrangalhado pela SAD, já em 2000 com Fernando Santos, teve talvez o maior número de jogadores de sempre, uns 30 no quadro e utilizados ao longo da época que acabou sob as ordens de Mourinho, entrado em Janeiro de 2002. Lembroºme em 2000 que cheguei de férias e tinham sido contratados jogadores como Pavlin e Pizzi, a que se seguiram outras abencerragens.

Mas falar de memória, como fez Octávio quando no domingo acedi à entrevista na íntegra no CM e já depois de ter escrito só com o resumo acima linkado do Record, é complicado e especialmente falar dos outros é traiçoeiro. Não foi depois do Porto-BMar (2-3) que Mourinho disse ter apenas cinco ou seis jogadores; na verdade, disse "há jogadores que me dão pena" depois de 3-0 no Restelo, mais de um mês após a derrota com os aveirenses a meio da eliminatória da Champions com o Real Madrid.
 
Esse livro novo também não me interessa, como normalmente não interessam as "biografias autorizadas" de que é recente exemplo o livro de Alex Ferguson no qual um leitor atento detectou quase 50 erros factuais apesar da descrição do próprio treinador do M. United.
 
De Jardel a Pena, o aleatório das "31 decisões" que não podem ser as mais relevantes, todas, dos 31 anos de presidência, Pinto da Costa está feito num "31" como a camisola de Pena que parece que não contava e a inclusão de Domingos que já nem existia como jogador.
 
Se isto é a memória melhor dos 31 momentos altos de um gestor, estamos conversados e cientes do modo errático e estapafúrdio como os êxitos do FC Porto não têm sido enaltecidos a começar por dentro. De que é, aliás, exemplo o ostracismo a que foram votados jogadores sem o mérito de uma homenagem, de Vítor Baía e a Jorge Costa - olha, um dos ostracizados por Octávio Machado.
 
O futebol deve ser contado por quem o viveu, mas escrutinado por quem o sabe e pode fazer. Há erros inadmissíveis que não podem escapar ao crivo da verdade histórica e factual.
 
Como tenho o livro de Octávio Machado e vivi praticamente tudo o que contou nele sem remissão para os seus erros, estou à vontade para aceitar a coragem do Palmelão - quando enfrentou o poder difuso da SAD e a emergência de Caldeira que inexplicavelmente era o "homem-forte" das contratações - e partilhar de muitas das razões do insucesso que foram evidentes e individualizadas entre a influência do Paulo "Rasputin" Barbosa e a ascensão do Jorge "Enguia Esquiva" Mendes. Sem esquecer o seu fracasso: de resto, se Octávio pedisse - e ele não garante que pediu, disse apenas que não "vetou" - Jardel tê-lo-ia no próprio dia depois de o Super Mário ter aterrado no Porto.
 
Pinto da Costa continua mal aconselhado e não terá o fim glorioso previsto. A História de sucesso do FC Porto continua vilipendiada por dentro e com tiros nos pés que não a matam mas fragilizam.

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