03 dezembro 2013

Confundir a árvore com a floresta

O modo de ver o FC Porto do momento é assim a modos de palavrear vazio de conteúdo enquanto se procura a gulha no palheiro como se não houvesse e não hajam culpados da situação de crise. Há luminárias para tudo e tudo serve às luminárias. A realidade, porém, vai em frente e os factos falam por si e não pelos que os distorcem. (actualizado) com esta introdução.

Com capas como a de O Jogo de hoje, mais uns quantos comentários tão pessoais quanto irreais e falaciosos para eventualmente desmontarem patranhas enquanto se afundam em crendices da bola indígena (a velha estória de correu sempre mal a mudança de treinador), está dado o mote para o "aguenta-te" Preocupações Fonseca que, pela enésima vez em cinco meses que já vai de época, reuniu os jogadores e conversou. Soube há pouco que a folga foi transformada numa ida ao psiquiatra com o "técnico" que pouco tem sabido mostrar do mister... (actualizado, 14h).
 
Isso é suposto ser trabalho diário de qualquer treinador. Quem está de fora, como os jornalistas e os adeptos, devem ver o resultado de tanta conversa nos jogos, hoje felizmente não só um por semana como nos domingos de antigamente a que, por estas alturas, se quedava o calendário da bola sem as "quartas-feiras europeias".
 
Porque o pedir atitude é só ver a árvore e não ver a floresta. Porque ela já ficou a arder com mais uma mexida incompreensível e totalmente falhada no meio-campo em Coimbra. Tudo porque o "Porto de Fonseca" não é o Paços de Ferreira sem pressão de ganhar todos os jogos e de cedo ter um futebol montado nesta altura da época. E avolumar Produções Fictícias como se a organização de jogo esteja dependente de atitude é considerar dois erros:
- se for a falta de atitude a causa para o mau efeito da inexistência de organização de jogo, pois muita gente tem de ir embora em Janeiro, como em 2012, e não o treinador, embora eu não veja falta de atitude como vi, por exemplo, na eliminação da Taça em Coimbra há dois anos;
- se não for falta de atitude, porque vejo os jogadores esforçados, a correrem (embora mal, porque não sabem onde estão, onde era suposto estarem e onde alguém terá imaginado que estariam, dos erros defensivos à falta de finalização de "60 e tal cruzamentos em dois jogos"), ao contrário do que vi há dois anos na eliminatória da Taça em Coimbra, então alguém há-de ver que os erros acumulados - tão flagrantes quanto algum azar na finalização, é certo - resultam de falta de trabalho colectivo para o que a cereja no topo do bolo foi a miserável desorganização do jogo no sábado, de resto já vista com os austríacos.
 
Lembro que, com o balneário em convulsão depois de ganhar tudo em 2011, Vítor Pereira herdou ainda uma equipa sem Falcao e teve de adaptar Hulk e foi com ele a ponta-de-lança, à revelia de todas as opiniões mas que defendi aqui ser a opção certa "e se não fosse isso não teríamos ganho o campeonato", o que partilho inteiramente, e depois de ser eliminado da Taça em Coimbra foi ganhar a Donetsk para pelo menos segurar o 3º lugar da Champions. De resto, como defendi o treinador após esse jogo e creio ter sido o único a fazê-lo naquele momento, sem deixar de ter criticado maus jogos que qualquer equipa faz aqui e acolá, nunca andei descontente com o futebol alegadamente lento, mas muito seguro e desarmante para os adversários, como é agora intenção de sustentar - porventura quem então criticou quer justificar a porcaria de futebol que hoje se vê - para justificar a continuidade de Preocupações Fonseca.
 
Ora, como registei aqui que vi dois bons jogos do FC Porto com Guimarães e Nacional, independentemente dos resultados, estou à vontade para criticar o que, de resto, vinha sendo a tónica geral do futebol portista: desorganização, mau sistema táctico, aversão dos jogadores e confusão sobre tarefas a desempenhar tudo do que vai a cargo do treinador.
 
E já nem entro na elaboração do plantel, onde acho muito bem o reforço da componente do mercado interno mas não se pode gastar 8 e 10ME em estrangeiros para ficarem no banco, esses devem ser o must a dar à equipa e os contratados cá ajudarem a preencher uma ou outra lacuna e servindo de alternativa e não de pensar-se que Josué tem de ser o mestre do meio-campo e Licá um extremo que nunca foi. 
 
Mas ainda bem que chegamos ao ponto de restarem duas hipóteses a considerar: atitude tem a ver com os jogadores, embora o treinador não pareça motivá-los porque lhe cabe esse papel também; trabalho técnico tem a ver com o treinador e o FC Porto é um deserto de ideias tamanho - não obstante criar oportunidades de golo - que os jogadores não acreditam - não é falta de atitude, mas de clareza no comando da equipa! - no que fazem e por isso fazem, normalmente, as coisas mal.
 
Porque a sucessão de maus resultados já é visível para ser atribuível a atitude. E o mau jogo já se verificava, decerto não por falta de atitude, quando a equipa ganhava e sempre aqui enfatizei que a forma como a equipa jogava não convencia, não era sólida e de modo a infundir medo no adversário, não resolvia os jogos de forma convincente e deixava tudo pendurado por um fio, como até com o Arouca e o Belenenses, dois promovidos. Isto é miserável não se ver e que, descontando a falta de atitude, tem a ver com o cerne da questão.
 
Ou seja, vão bem assim, o andor e os acólitos. Entretanto, o Museu continua a servir para mise en scène...

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