09 dezembro 2013

Chama-se "treino", "organização e modo de jogar" e exige um "treinador"

"Estávamos aí aos 15 minutos de jogo, quando Maicon recebe a bola de Helton e segue com a redondinha controlada pelo lado direito do centro da defesa, o “seu” lado em qualquer jogo. Arranca com a pelota na sua frente, lento, hesitante, sem linhas de passe visíveis e a pedir que os colegas se movimentem para criar qualquer tipo de jogada ofensiva com um mínimo de coerência. Herrera está tapado, Defour longe, Lucho ainda mais. Varela colado à linha direita, Josué e Jackson a duzentos quilómetros de distância. Maicon olha e vê Danilo, como um desiderato tão perto de atingir, ali mesmo à beirinha da relva, uns meros vinte metros entre ele e o descanso mental, a recuperação da posição e a injecção de moral que precisa para não se preocupar mais nos próximos dois, três segundos. Trinta e tal mil no estádio viram o que se ia passar a seguir. Maicon não viu. Não viu que havia um fulano de vermelho e branco prontinho para lhe sacar a bola com um ou dois passos ao lado, tal foi a facilidade com que interceptou o passe longo (rasteiro) que o brasileiro tentava endossar ao compatriota. E os assobios, que até então eram esporádicos, acentuaram-se não só para o careca mas para o resto dos jogadores da equipa.
Enervei-me nesse momento e comecei a disparatar. “Pára e olha para o que estás a fazer, caralho! Pensa! Tem calma!”, gritei para o campo, com vários colegas de bancada a olhar para mim, uns a concordar, outros a dizer frases no mesmo tom com palavras diferentes. Foi “o” lance principal que definiu toda a primeira parte e, no fundo, uma enorme porção das primeiras partes (e algumas segundas) que temos vindo a fazer nos últimos meses. Há nervosismo a mais, precipitações e excessos de confiança e uma aparente incapacidade de tantos rapazes em parar para pensar, em conseguirem ter a calma de perceber o que podem ou não fazer durante um jogo. Acima de tudo, parece haver uma ridícula quantidade de passes falhados pela tentativa atabalhoada de executar depressa o que nem devagar se consegue. E todos já vimos aqueles mesmos fulanos a fazer tão melhor do que têm vindo a mostrar em campo, o que torna as coisas ainda mais enervantes.
É preciso calma, tanto eles como nós. A táctica é secundária quando os seus intérpretes estão a ser assobiados mal recebem a bola" - do Jorge, Porta 19.
 
Muito raramente publicito textos alheios, muito menos completos, pois só vale a pena fazê-lo se servirem algum propósito.
 
Esta peça do Jorge é só o complemento, sem ele "perceber" o que quer dizer com o que diz, do que venho a escrever já meses. Não há "treino" para falhar passes de forma inadmissível e incorrer em erros que o "treino" é suposto banir ou mesmo proibir. Não há "organização de jogo" por faltar um sistema que o corporize com princípios claros e regras detalhadas no que é a substância do "modelo de jogo", os "truques" e "segredos" que todos os jogadores mereceram como "educação" para um "modo de jogar" (já disse para lerem o livro: "Mourinho, porquê tantas vitórias"); não há, por isso, "modo de jogar" e, na base, não há "treinador". Preocupações Fonseca, até ao momento, falhou rotundamente no que era suposto fazer. Fora os resultados, fora os altos e baixos dos jogos, fora as vantagens no marcador que se esfumam a seguir, fora a perda do controlo dos jogos na maioria do tempo.
 
O Maicon tinha uma solução: pontapé para a frente. Foi o que a equipa se habituou a fazer, foi "educada" para fazer assim e os centrais, como disse após o jogo com o Belenenses, não podem ter a bola para mais de um ou dois toques e na dúvida atiram para longe. Os centrais do Porto, na origem do jogo e face à confusão do meio-campo, passaram a ser impiedosamente marcados e a perderem bolas e jogo, daí nascendo vários golos consentidos porque o adversário explorou esse filão e essa jazida sem guarda que vinha sendo a saída de bola desde a defesa. O Maicon está nervoso porque não tem saídas de jogo. Os jogadores enervam-se porque não têm lição estudada e a "educação" recebida foi má e trocam os papéis, perderam o sentido do que sabiam fazer e em que infundiam medo nos adversários e passaram a fazer os adversários acreditar que podem levar pontos, e até vencer!, de uma equipa com camisola às riscas azuis e brancas.
 
Dei inúmeros exemplos ao longo destes meses. Este tipo de falhas, recorrentes e nunca vistas em muitos anos no FC Porto, resultam do mesmo problema que há meses aponto, não como "visionário" ou "treinador encartado", mas como observador atento dos jogos e a quem a "táctica" nem diz muito. Mas, como a Luz, como a Justiça, como a Moral, como a Ética, nota-se a falta quando não há. A "táctica" passa a ser importante quando passaria despercebida se tudo fluísse natural e harmoniosamente, como estávamos habituados. Mas, mesmo "habituados", muitos não percebem porque e como funciona uma equipa e o que pode fazê-la encravar.
 
Não há "táctica", o "trabalho de treino" não se vê - e todos têm um mínimo de obrigação de ver, excepto os basbaques e os que vêem o futebol "para ganhar e só a ganhar" -~e "não temos treinador". Esta é a constatação até ao momento e nada ainda me fez pensar o contrário desde que o anunciei em fins de Setembro, com o 2-2 no Estoril onde a arbitragem podia servir para camuflar o essencial, e depois de uma pífia, inútil e imerecida vitória em Viena onde o treinador se regozijou e fiquei de cenho franzido.
 
Já expliquei inúmeras vezes tudo isto. Antes de isto estar à vista, já tecia as minhas perplexidades sobre o que o novo treinador pensava do jogo e de como pôr o Porto a jogar. Antes de a bola correr a sério disse que Fernando só podia jogar sozinho (isto em finais de Julho!), não se podia adulterar o ADN do futebol que era marca da casa e que a SAD permitiu abandalhar até ao ponto a que chegamos hoje. As pessoas "não compreendem" porque não sabem ver e não lhes explicam e talvez nem queiram saber, ouvem e lêem as mesmas tangas dos mesmos pantomineiros, a quem amiúde copiam as frases e partilham as "sentenças" sendo incapazes de terem as suas "opiniões" por rejeitarem as que não lhes convêm.
 
Ontem, inesperadamente, depois do almoço, recebi um sms de um amigo, depois outro: "Você tem razão" mas "como mudar"? "Ele não quer e eles não querem". Isto é como a Economia. E as Finanças. E a Gestão. Por exemplo do País: apesar dos paspalhos à solta, das "personalidades" e até de "ex-políticos encartados", a realidade demonstrará o caminho. A prática e os discursos dirão como empreendê-lo. Eu já perdi a paciência com os "arautos da verdade" que lhes conveio todos estes anos e trouxe o País onde ainda está. E não tenho esperanças com Preocupações Fonseca. Agora, a "táctica" é primordial, ou os assobios vão persistir. E os maus jogos e maus resultados também.
 
Em suma é isto, mas isto já há meses venho a dizer e o jogo do Braga confirmou isso mesmo e não pode deixar ninguém tranquilo quando o treinador acha que não se mudou nada na 2ª parte.
 
Vi coisas muito boas em Guimarães e com o Nacional apesar do empate. "Aquilo" de Coimbra, reposicionando a equipa no bloco de partida de onde ela não sai, demonstrou que está tudo "mole" e a entrada com o Braga indicou a persistência do erro. E tememos pelo que vimos a seguir como se não se tivesse passado nada e o que era mau esteja para aparecer aí outra vez.
 
Parece um diálogo de mudos para surdos em que os gestos não servem para nada. É surreal o nível de burrice instalado no FC Porto e contagiado nalgumas franjas de adeptos - que nem representam a maioria - do "seguidismo" e da "crença", confiantes de que "a estrutura" e "quem sabe" põe isto nos eixos. Temo mais Produções Fictícias, que é tudo o que tenho visto, assombrado, assustado, incrédulo porque não sou dos "catastrofistas" de todos os anos que implicam com o treinador. Já antevia uma derrota, coisa que nem admitia nos últimos três anos, e antevejo outras, em qualquer esquina, se a inversão do triângulo não tiver surtido efeito como surtiu na 2ª parte de sábado. Acima de tudo, a equipa precisa de jogar no sistema e no registo que sabe, o jogo com o Braga foi paradigmático e único. Ou arrepiamos caminho ou o FC Porto irá perder-se por atalhos e, quiçá, terá de mudar o treinador em Janeiro, estação propícia mas porventura tardia como foram todas as outras que citei há dias: Ivic, Octávio, Fernandez. E todos tinham sistemas de jogo mais sólidos ou "invariáveis", mais assimilados pelos jogadores, mas não havia "química", "gente empolgada" e "disciplina severa" (Adriaanse foi o único a mudar a meio do percurso quando esteve por um fio e soube arrepiar caminho acabando em grande). É-me impossível vislumbrar em Produções Fictícias uma personagem de gabarito, com coragem e sentido de missão com ideias claras e arrojadas, como foi Adriaanse, outro incompreendido pelos "intelectuais" que passeavam a sua "ignorância atrevida" nas tv's e debitavam inanidades nas colunas dos pasquins, moldando até a verve e a "postura" dos profissionais da escrita. 
 
Vou tentar continuar a girar em sentido contrário ao de todos porque nunca vou em "ondas" ou "na maralha".

NB - eis um exemplo, diferente, de como, apesar da "piada", se troca o essencial por relutância em discuti-lo, pelo acessório acirrado no vislumbre de umas idioticies avulsas escritas algures, o que demonstra o estado de negação do que se costuma designar de Nação portista. Hoje todas as tv's tiveram programas de "opinião pública" sobre a liderança do Sporting, o que é justo tal a "curiosidade" e a raridade após 9 anos de "evento igual". É o mesmo que evocar onde são bons ou assim-assim os golos: peanuts ou merdices. Alheamento da realidade (sem menosprezo pelo Pobo do Norte que tem valia, ainda que lamentavelmente descontínua).

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