12 setembro 2013

A posição de Defour

Tenho dito haver alguma confusão, talvez por abraçar-se a "primeira ideia que fica" ou respeitar-se o "postulado de quem disse primeiro", coisas que epidermicamente rejeito, quanto ao "aprisionado modelo" do 4x2x3x1 do FC Porto com Paulo Fonseca. E tal como eu, outras opiniões foram exprimindo não verem isso em campo, mesmo que, amiúde, nos relatos do dia e nas crónicas do dia seguinte, alguém escarrapache isso como dado inelutável.
 
E a questão posta era e é se há mesmo o "duplo pivot", com Defour ao lado de Fernando, o que manifestamente não existe, pelo que é cada vez mais idiota alguém apregoar o que vê como certo sem saber do que fala. Mesmo que já nem ligue a tantas patacoadas, a verdade é que os factos, e até os protagonistas, vão falando por si. Embora, como é usual e até trágico, isso não ensine nada a alguém.
 
Defour vem há dias a dizer que "jogo na minha posição", desde que marcou pela Bélgica na Escócia, joga com mais frequência no FC Porto e sente-se, compreensivelmente, melhor em confiança e no desempenho subsequente. Mas enfatiza sempre "a minha posição". Ora, nem ele alguma vez foi contratado para uma eventual posição de "duplo pivot", nem a executa por estes dias. Sempre se percebeu ser "duplo", sim, mas de João Moutinho. E, diz Defour agora mesmo, que joga no lugar de João Moutinho, como estava vaticinado, podemos acrescentar. Pelo que o esclarecimento fala por si, Moutinho não era o "duplo pivot" com Fernando.
 
Não percebo, a não ser pela euforia aceitável de estar sempre a jogar, é como Defour acha que foi a "mudança de treinador" que o favoreceu. Na verdade, ao jogar em vez de João Moutinho, como admite, Defour beneficiou não do novo treinador, mas da saída de Moutinho. Defour era o 12º jogador, o suplente, diria de luxo, que mais saltava do banco para o campo, e tornou-se, pela força das circunstâncias, um do 11 titular. Porque o que tem de ser tem muita força. E Defour tem de ser.
 
Parece-me que ao aludirem, nos títulos, e na interpretação sempre seguidista dos jornais da malta das televisões que tem mais tempo mas raciocina muito pouco, à "mudança de treinador" que beneficiou Defour, está implícita uma crítica a Vítor Pereira. E, como todos concordarão sem esforço, no 4x3x3 vigente o trio Moutinho-Fernando-Lucho era inamovível e Defour só cabia ali como alternativa, aquela que, em efectividade de funções, agora desempenha, e bem apesar de algumas críticas descabidas, uma dessas posições, a vagante de Moutinho.
 
Não quer dizer, por fim, que se mantém o 4x3x3, a organização de jogo, o modelo implícito, é diferente. Mas, de facto, tudo somado, o FC Porto actual é mais próximo do 4x3x3 que se usava, do que um imaginário 4x2x3x1 que, por ironia, é atirado como real e apodado de... defensivo, o que já incomodou até Paulo Fonseca que teve de evocar exemplos ("O Madrid de Mourinho era defensivo"?, perguntava, sendo que é mais evidente o duplo pivot com Khedira e Xabi Alonso). O 4x3x3 puro e duro hoje e sempre deixou de ser, há mais maleabilidade colectiva e outros movimentos também pela entrada de jogadores novos como Josué e Licá. Defour a jogar num registo muito próximo de Moutinho garante a continuidade de uma certa fluidez de jogo pela ligação ao ataque. Mas as cambiantes dos jogos têm mostrado, amiúde, mais um 4x4x2, com Licá a segundo ponta-de-lança, do que um declarado 4x3x3 aparentemente no papel mesmo que não no tal estado puro e duro: até porque Lucho é mais "10" do que "8" e há uma reorganização sectorial e renovadas funções na zona criativa do jogo. A propósito, resta saber se será Defour a sair ou um entre Licá e Josué para a entrada iminente de Quintero que, como 10 puro, fará mover Lucho (só se admite para a direita) e alguém dos anteriores sair do 11 titular. Com a proximidade da Champions, não creio que haja mexidas nesse âmbito tão cedo.
 
Continuo sem ligar a isso de "tornar estáticos e só no papel" dos sistemas de jogo. Só espero que Defour continue a jogar bem, como gosta e serve a equipa, e bem melhor do que entende ser benéfico para ele - os jogadores são normalmente egoístas, já se sabe e a excepção confirmará a regra - ter sido mais "12º jogador e não titular" a troca de treinadores ou a venda de Moutinho. Defour, como lhe está no sangue, é um jogador de equilíbrio numa equipa que considero mais um médio de transição do que médio defensivo como Fernando. E enquanto for assim, venham mais 3 pontos no sábado (que não poderei ver ou comentar por estar ausente), o resto é "estupidez natural" em que vagueia o palavreado da bola indígena.
 
VÍTOR PEREIRA - mal foi avaliada a entrevista a Record, embora tenha duas pequenas revelações e duas amplas opiniões do ex-treinador que não foram aproveitadas para títulos da entrevista: não acredita num regresso ao Dragão porque ao não renovar deixou chateados os dirigentes, o que também aceito como certo; Izmaylov e Liedson foram o refugo do refugo que de pouco serviram, apesar de alguns fogachos muito pontuais e teve de os aceitar sob pena de ficar ainda mais desguarnecido de opções do que no seu primeiro ano.
 
VÍTOR BAÍA - boa entrevista a O Jogo, depois complementada no Porto Canal basicamente com as mesmas palavras, num discurso estudado e ponderado mas sempre com elevação e portismo; e uma preocupação com o pós-Pinto da Costa, preocupação que devia ser partilhada por todos mas os crónicos prosélitos pintistas não encaram a sucessão mesmo sendo inadiável cedo ou tarde, com a particular acusação de ver muita "ganância pelo dinheiro e apego ao poder" vigentes no Dragão. Nada que não se saiba, mas se ele o diz tem outro impacto que, mais uma vez, em nome do statu quo foi desvalorizado. 

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