31 agosto 2013

CaliMourinho ao fim de 10 anos virou «cheerleader»

Obviamente que não seria a TVI a lembrar a final de 2003 da Supertaça no Mónaco, eventualmente evocou-a de passagem (e poucos retiveram) e decerto não de propósito, muito menos para fazer pedagogia. Mas vi o Bayern-Chelsea, desta vez com os penáltis a premiarem mesmo a melhor equipa ao contrário da Champions'2012 em Munique, e em Praga foi palpitante mas pelas incidências do marcador, com a "pior" equipa a adiantar-se duas vezes e a ir a penáltis nos últimos instantes. Um duelo com história e acumulada pelo choque Mou-Pep.
E ocorreu-me sempre verificar as diferenças de 2003 para 2013, com Mourinho como protagonista.

 
Até porque o golo bem finalizado por Torres, num rasgo do genial Hazard e abertura para Schürrle com cruzamento para o pdl espanhol, aos 8', lembrou-me os 9' de 2003 no Mónaco, quando Rui Costa fugiu pela direita ao improvisado Ricardo Costa a defesa-esquerdo (Nuno Valente tinha sido expulso na final com o Celtic em Sevilha) e cruzou para Shevchenko, como ontem Torres, "fuzilar" Vítor Baía, de cabeça, no coração da área.
 
A partir daí pus-me a recordar o que era o futebol portista vencedor da Taça UEFA e o futebol que via o Chelsea, novo vencedor da Liga Europa, ambas sob o comando de Mourinho. Diferença da água para o vinho, com vantagem para o FC Porto. Maniche e Deco bem tentaram mas não vergaram o Milan, apenas campeão europeu em 2003 por penáltis (ante a Juve) e então orientado por Ancelotti. Como assisti em 2003 no Mónaco, tenho bem presente muitos episódios de então e as incidências de ontem levaram-me ao paralelismo fatal. E diferença, ainda, porque Mourinho perdeu uma Supertaça mesmo e não só deixou para os outros jogarem (Fernandez em 2004, por exemplo). Desta vez caiu-lhe no colo, mas perdeu à mesma 10 anos depois, embora de forma distinta.
 
Pois o FC Porto bem tentou mas não chegou a prolongamento, sufocando o Milan em 2003. O relvado do Louis II era péssimo (e nunca melhorou, na verdade) mas só a falta de finalização travou o FC Porto ante um Milan defensivo ainda no auge de Maldini a comandar a defesa e Dida a segurar a vantagem. Mourinho acabou entusiasta, ainda assim, e prenunciando uma grande época, que em 2004 viria a culminar na Champions de Gelsenkirchen, com o Milan de Ancelotti a ficar pelos quartos-de-final com 4-0 na Corunha, que por acaso também vi ao vivo enquanto o Porto empatava em Lyon (2-2).
 
Pois o Porto, nada favorito em 2003, fez o Milan defender com tudo, o árbitro Graham Barber perdoou um segundo amarelo a Seedorf, dizendo que fora por respeito à carreira do holandês (?!) prejudicando objectivamente os portistas. Mourinho lamentou o jogo calculista do Milan, Ancelotti regozijou-se por "saber defender também é uma arte e bom futebol" (sic). Mourinho, ontem, deve ter pensado o mesmo, a sua abordagem ao jogo foi totalmente diferente.

Em 2003 Mourinho construiu uma equipa de tostões, em 2013 apresta-se para cercear a sede de conquista de uma equipa de milhões, desperdiçando talento a rodos (Mata está "morto", agora que chega Willian) e sempre com livro de cheques à mão. Esta é a diferença que os pategas tugas não descortinam e já foi patente em Madrid.
 
Desta feita, vi o Chelsea defender sempre, como no início da semana vi em Old Trafford. A defender o 1-0 de Torres ou empatado 1-1 depois de Ribéry ter igualado, o Chelsea nunca assumiu o jogo. Nem quis bola, deixado a um Bayern sem critério com ela, dependente do novo melhor jogador europeu Ribéry, enquanto todos os Robben, Th. Muller, Alaba, Kroos (sem arriscar o remate nas subidas) não pegavam uma de jeito. Posse, pressão mas sem mossa, do Bayern, e o Chelsea sempre a defender a pé fixo e Mourinho, como no Real Madrid, sem avançar com qualquer lateral pelo corredor, esperando as diagonais de Hazard e a geometria e respeito táctico do expediente Schürrle. O Chelsea foi isto, repelir jogo, repetir faltas, espalhar umas jogadas individuais com 3 ou 4 jogadores apenas visando a baliza de Neuer.
 
Que diferença de Mourinho em 10 anos, para mim, como se não viesse notando a decadência da aura do português a cada ano, com incidência em Madrid onde saiu derrotado, claramente, por um clube enorme demais para o seu narcisismo. Está a tornar-se o Calimerinho, porque nada sai de jeito... O Mourinho Calimero, agora, pode queixar-se também de Ribéry, o melhor da Europa, estar novamente contra ele, como antes Messi ou Iniesta. It's na injustice, it is!...
 
Com o Bayern ainda às voltas com o modelo de Pep Guardiola, amiúde sem saber que jogo joga, a equipa alemã perdeu o dinamismo do campeão europeu, ainda que melhor finalização em tantas jogadas na área pudesse amenizar um jogo que sempre custou aos bávaros. Apesar de um par de sustos, esporádicos, na 2ª parte, o Chelsea foi sempre o parceiro menor e o Bayern o parceiro empreendedor mas também "emperrador": duvidava nos passes, nas tabelas, nas desmarcações e confiava em Ribéry. Era justo que vencesse e esteve perto nos 90', mas lá foi a prolongamento e lá sofreu mais um golo de contra-ataque, com frango de Neuer.
 
Entretanto, se em 2003 podia ter ficado em vantagem numérica se Seedorf tivesse sido expulso, como era justo, Mourinho teve de acabar o jogo com menos um. Ramires, talvez ainda com a marca de cacetada da Luz, lá foi expulso, justamente, forçando o Chelsea a defender mais, mas sem evitar que o genial Hazard, só superado como MVP pelo extraordinário Chech, marcasse 1-2 quando menos se esperava. Mourinho não só empilhou defesas, e o Chelsea acumulou amarelos naturais a truncar jogo de forma grosseira, como acabou a meter Terry, depois de Mikel, para segurar tudo até aos dentes. Para cúmulo, porque as suas forças não davam para mais, e o milagre de acabar com 10 mas vitorioso como em Barcelona com aquele infame jogo do Inter em 2010 não se repete sempre, Mourinho revelou a faceta de... líder de claque.
 
Mourinho, prometi que voltaria ao tema do seu "mito finito" que lhe vaticinei quando chegou a Espanha para se amedrontar com o Barça de Pep, pode dizer ser o "Happy One" de volta a Bridge, mas no tempo que passou no Chelsea já se queixara que os adeptos não faziam ambiente no seu estádio. Agora, vimo-lo a incitar os adeptos a puxarem pela equipa, como se pretendesse puxá-la para a frente. Mourinho queria mais um jogador em campo e, à falta de melhor argumento, já que preferiu Lukaku por Torres em vez de Mata por quem não morre de amores, pedia o seu público para encher a área.
 
Felizmente, depois de oportunidades que davam para golear em 5', Javi Martinez empatou aos 120+1. Os penáltis redimiram Neuer a salvar o remate de Lukaku e o melhor futebol venceu sem ainda se ter encontrado.
 
Mourinho impante, mandão (agora é só bocas, até mind games passaram de moda), foi em 2003 e o FC Porto inspirou-o mas era mal-amado por cá. Agora torna as suas grandes equipas em pequenas no jogo jogado mas é idolatrado pelos tugas. E continua a perder, embora o sorteio da Champions nos evoque a mesma sorte presente na sua carreira. O Chelsea menor que vi em Manchester na 2ª feira foi o mesmo que se inferiorizou ao Bayern.
 
À terceira, depois de Benfica e M. United, ainda bem que prevaleceu o vermelho sobre o azul.
 
Se em Maio o Chelsea foi surpreendido pela determinação do Benfica com 14 jogos a menos nas pernas, agora não há desculpa para um jogo com tracção atrás. Há apenas efeito do treinador e é a carreira de Mourinho que dificilmente vai em frente. Já orquestrou sururus com a Imprensa em Espanha e trazia recados, mal feitos, em papéis secundários perante jornalistas que saíam por cima nas conferências. Agora mantém diferentes pontos de vista, que só ele e Rui Faria partilham) com a UEFA pelas expulsões. Sempre a mesma ladainha, seja Pep ou o Barça do outro lado, os do Atléti tocaram o mesmo bombo para fazerem ruído e atraírem lágrimas e palmadinhas nas costas...
 
Talvez para corresponder aos apelos femininos com que acenaram de Inglaterra com o regresso da sua bela figura com fatos de marca, quando as colunistas dos tabloides descreveram as suas delícias por verem o handsome José de volta, que uma vez apelidaram de "love rat", parece condizer ver Mourinho como "cheerleader". Treinador arrojado e com rasgo, há muito acabou porque os sucessos, muito felizes, incharam o ego mais do a rã em frente à vaca da fábula e o fatídico espelho do lago onde Narciso se admirava.

De resto, não se admirem que os títulos dos pasquins tugas sejam tão condescendentes - exemplar e não único - quanto Mourinho se sente vitimizado, desta vez sem Pepe para o ramalhete e esquecendo a escola da Luz em Ramires... Afinal, quando Mourinho foi demitido em Madrid, tal nunca perpassou pelos média lusitanos (Mourinho sai de Madrid, não que foi demitido ou que o contrato interrompido), onde se transformam banalidades ou equivalências em heroísmo (o Estoril portou-se bem, mas não é menos estreante do que os israelitas e austríacos que eliminou, embora se enfatize e não pareça assim). Quando ganham os mais maiores grandes, então é histerismo. O parolismo é assim no periodismo serôdio cá da parvónia (*).
Mas quando derem conta do fogo a lavrar, é como querer apagar labaredas com um copo meio cheio...

(*) Ontem notei que as edições online dos média tuga não abordavam a votação para o Melhor jogador europeu. Um jornal até titulou que Ribéry venceu Messi (Cristiano esteve mesmo "ausente") e vi por acaso O Jogo e o JN com menção aos 36-13-3 votos dos finalistas quando isso eram apenas menções de cada um para o 1º lugar, sendo que os votos eram distribuídos por três categorias (5, 3 e 1). Portugal é o que é. Pode mudar o nome. Ou a mosca.

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