24 abril 2013

O Regime

Alguns dias ausente inibiram-me, como avisara, de comentar mas não passei ao lado das "grandes questões". Mesmo longe, amiúde em bolandas, na hora certa parei para... ver o(s) jogo(s). Em boa e até improvável companhia. De regresso ao nosso país de sempre não trago boas recordações nem sequer novidades: a vida lá fora, mesmo para os nossos imigrantes longe de concretizarem, muitos deles, o sonho da vida dourada, não está fácil e cá dentro é a porca miséria do costume. Entretanto, na companhia de portugueses tão anónimos quanto eu, conseguindo até dar uma olhada, com atraso do envio (então ao domingo nem de ontem havia jornais), a cada um dos três pasquins desportivos, verifiquei que um actor vai dar corpo e alma ao seu sentir de adepto numa tv de um jornal para adeptos e escuso-me a dizer os nomes dele e daquilo mas quem - ainda há quem... - lê... deve saber do que eu estou a falar. O que pretende, sic, esse actor? Desmistificar a ideia de o Benfica ser o clube do regime (sic). Não sei, nem vou saber, se o actor, tipicamente de comédia, já debitou no programa daquela tv de jornal para adeptos fiéis e tão fiéis que muitos dizem, encartados em qualquer coisa ou simplesmente ignaros, terem começado a ler por aquelas páginas amiúde traduzidas como Bíblia. Acho até que muitos portistas têm essa convicção, tal a forma entusiasta como a ele/ela se referem. E sem querer beliscar a boa escrita do João Ferreira nestes emails do João, a verdade que ressalta é que só o que A Bola diz merece comentários e acirrados, tal a importância que ainda se reveste a sua leitura e difusão.













Fiquei com curiosidade, não sobre a reacção do FC Porto e muito menos sobre como reagiria o Torto Canal porque não confio em milagres nem sou crente cego à espera de Godot, mas como o Vermelhices retraria a coisa do derby. Ao seu estilo.
Estamos já de novo noutro 25 de Abril e nada como falar do tal Regime. O outro, o antigo, e o novo, dito nosso por quem se revê nele (e eu não, nunca revi), mas com o denominador comum, no tocante ao futebol, sobre o clube do regime. Vi os jogos do Porto, com mais um penálti, e brutal, por marcar, e do Benfica em que, depois da época passada termos visto um árbitro marcar três penáltis contra um visitante na Liz, vimos um árbitro negar três penáltis a um visitante na Luz. O Regime está vivo, vivó Regime!!!
 
Confesso, porém, que não tenho estômago para certas leituras, às quais chego sempre por terceira (ou mais) via, nem sequer para certas arbitragens. De João Capela, Ó Capela, disse o que disse no Marítimo-Porto.:
- um penálti sobre Lucho transformado em amarelo por simulação quando o argentino foi tocado no joelho;
- mais um penálti por marcar por gravata de Igor a Jackson;
- três entradas de jogadores do Marítimo por trás sem vermelho directo, a primeira nem amarelo a Heldon (sobre Otamendi), Heldon que ainda levaria um amarelo mas podia continuar em campo; outra de Igor a Jackson que deu sururu mas sem expulsão; mais uma de Roberge a Jackson que nem por ser à entrada da área deu sequer amarelo;
Parece que poucos o viram da mesma forma e até o FC Porto se calou por mais um arbítrio. Consequência ou não, Capela decidiu a Taça da Liga ainda que seja difícil contestar o penálti assinalado e embora difícil de engolir não restam argumentos para acusar o árbitro. Agora, Capela poderá ter ajudado a decidir o campeonato com uma arbitragem monstruosa, digna do Regime, o antigo e o que ainda vigora, por muita areia para os olhos e cuspo para o ar que uns tantos queiram atirar com o silêncio cúmplice e autodestrutivo do FC Porto. Lá está, eu levantei-me do meu lugar, placidamente sentado numa plateia cordata e correcta sem extravasar o que fosse, ainda antes do final da 1ª parte do derby. ão houve uma, uma única situação de despique directo, duvidosa, que o árbitro não tenha apitado a favor do Benfica. Uma só. Uma apenas. E já lá tinham ido dois penáltis por marcar para o Sporting e uma série de faltas de Maxi Pereira, como sempre, sem a necessária sanção disciplinar do árbitro. Uma arbitragem à moda antiga, mesmo que moderna e mesmo que uns tantos e uns tansos queiram fazer crer que há 20 anos era pior e há 30 anos o Pinto da Costa manobrava a arbitragem, não se sabendo hoje quem, com a marioneta vi-te ó Pereira, manobra a arbitragem.
 
Não deixou de ser uma boa ocasião para os saloios do Sporting pensarem em quem manobra a arbitragem, com a marioneta do seu consócio que já quiseram expulsar da respectiva comunidade. O Benfica está mais perto de ganhar o campeonato com arbitragens de autêntico colo-colo - como o do emblema do clube chileno que vi na lapela de um jovem à minha chegada ao aeroporto - e o Sporting de ficar fora da Europa. Uma arbitragem de Capela a separar o que em tempos parecia unir os clubes da Santa Aliança contra o FC Porto. Mas uma arbitragem que vem no seguimento da pressão, mais do que dos conluios dos corredores do poder, em tempos exercida.
 
De Capela foi a expulsão, inapelável, de Aimar na época passada em Olhão, no único jogo de João Capela que o Benfica não ganhou, não marcou mas também nunca sofreu golos em oito ocasiões!
 
De João Santos, por alegadamente não ter visto um milimétrico fora de jogo de Maicon no 3-2 da Luz, a sua incapacidade visitual não foi glosada desta vez pelo treinador da treta: João Santos, que devia ter visto o penálti sobre Wolfswinkel, borrou-se e não ajudou o árbitro que, por seu lado, também "não viu porque não quis".
 
Lembrei-me, no jogo cuja arbitragem me inquietava e em que indirectamente o FC Porto era interessado, da pusilanimidade disciplinar de João Capela no Marítimo-FC Porto, então favorecendo o Marítimo (três jogadores deviam ter sido expulsados) e agora o Benfica: só Maxi Pereira fez faltas para expulsão por duas vezes e ainda cometeu dois penáltis sem terem sido assinalados e, assim, sem ver os respectivos cartões. E lembrei-me do cachaço no auxiliar de Jorge Sousa que de imediato começou a ver tão bem que viu uma bola de Cardozo para lá da linha de golo num jogo de 1-1.
 
Como as coisas me ocorrem no momento, não só deixei de ver os minutos finais da 1ª parte em campo tão infamemente inclinado, como não assisti ao quarto de hora final do jogo em que terá sido cometida mais uma penalidade não assinalada contra o Benfica.
 
Que o treinador da treta que sabe ser possível ganhar na Luz só com a Playstation tenha dito que foi uma "grande arbitragem", já o fizera no 2-2 com o FC Porto em Janeiro, com pena sua de não pode dizer que foi uma vitória "limpinha, limpinha" porque não ganhou; mas sem ter havido penáltis houve, sim, três fora-de-jogo mal assinalados que poderiam ter deixado os portistas isolados com hipóteses de golo ante Artur, a arbitragem de João "Pode vir o João" Ferreira impediu que mais golos portistas pudessem acontecer e nada como cortar cerce jogadas mesmo antes de chegar a bola à área - para além de ter deixado em campo sem expulsão inapelável mas não concretizada quer Matic quer, helàs, o famoso Maxi Pereira na entrada animal a João Moutinho.
 
Daqueles lados sabemos o que é considerada uma "grande arbitragem" e uma "vitória limpinha, limpinha". E que, além da arbitragem, a disciplina é o que é.
 
Do nosso lado a cada 25 de Abril lembramos como era antes, quem pôde ver, e como é hoje, demonstrado à saciedade.
 
Infelizmente, o nosso País não é só futebol, felizmente, mas é cada vez mais o mesmo País saloio, corrupto e atrasado, vivendo sempre histórias irreais com sonhos de grandeza sob o vínculo ao antigo e sempre renovado Regime, que amanhã se celebra, quem quiser.
 
A Imprensa de sarjeta, com a autocensura promovida internamente, dá o lastro comunicacional e institucional de reverência com o respeitinho de antigamente. Daí, como o País, essa também, estar em queda de credibilidade e em risco de sobrevivência.
 
Quanto ao ambiente em que vi os jogos, com gente de todas as cores, era o benfiquista, após o
magnífico golo de 2-0, quem dizia, como piada mas de forma respeitável e não acintosa ao seu colega sportinguista, que "assim fica 2-2 e está tudo bem". Não sei como terá reagido ao terceiro penálti perdoado ao Benfica, mas imagino que o amigo sportinguista com quem cavaqueirava continua e amigavelmente cada vez mais acharia graça àquilo tudo. Eu já não tinha estômago para tanto. O meu regime alimentar rejeita produtos censuráveis e intragáveis. Mas a cada qual o seu Regime. Vivó Regime, se o tal actor de comédia não discordar.


VOCÊ DISSE SWOT SWAP? Ao pôr a leitura em dia, procurando só o que vale a pena, eis o Regime, o antigo tão recente que muitos ainda não entenderam, a sacudir a água do capote; e mais do mesmo. Como é o Regime, então? Lembro-me que foi o JN a levantar a lebre há umas duas semanas e o resto da maralha nem tugiu nem mugiu: agora fala-se nisto e nunca se apontou a origem da notícia, nunca se fez referência à fonte onde todos foram beber. A inveja, como no fim dos Lusíadas, e o despeito são a marca da Portugalidade, por muito bem que a cantem por estes dias. Isto é a nossa maneira de ser, o Regime.