10 novembro 2012

Abdoulá pois é e o futuro do jogo portista

Não me interessa se a defesa do FC Porto é a mais jovem da Europa, interessa-me é que defenda bem, conjugada com o filtro necessário à sua frente num objectivo comum e colectivo, e acrescente valor à equipa.  O labéu da juventude, como se sabe, é herdada dos viscondes e nem sempre tal significa equilíbrio, experiência e sapiência, senão jogaríamos com os juvenis. A maturidade traz outros argumentos.
Ora, sem Helton ter feito qualquer defesa difícil nem o Dínamo de Kiev criado uma ocasião de golo clara (mesmo o remate de Yarmolenko não o foi, apesar de algum frenesim), dois jornais desportivos elegeram-no como o melhor portista na 3ª feira (A Bola ficou-se pelo Lucho, comparativamente mais adequado, também para mim)..
 
 
Parece que, agora, andam as baratas tontas a contar as estórias do Abdoulaye, a grande revelação do jogo pela maturidade e frieza reveladas na estreia da Champions aos 21 anos.
 
Eu arriscaria a dizer que o FC Porto acabou de ganhar mais um jogador de 50 milhões para o futuro a médio prazo. No curto, a solução para a defesa é simplesmente extraordinária. O senegalês tem corpo, altura, velocidade, agilidade (leia-se genica) própria de africano, mas fantástica dada a estatura, demasiado versátil para um corpo desta natureza sendo, ainda, a sua natureza africana e, logo, não propriamente conjugando todos os factores na proporção certa. O rapaz entrou bem a render Maicon com o Marítimo mas estava 4 ou 5 a zero. Em Kiev, num jogo trepidante e muito rápido de área a área, ainda que com poucas oportunidades de golo (todas do FC Porto), Abdoulaye deu o click que acendeu a luz do interesse mediático ainda que não detectado logo pela pasquinagem dita especializada sobre a qual os clubes nunca poderiam contar para detectar talentos, muito menos precoces, à falta de tanto talento em desabono dos próprios pasquins: ou vão pelo óbvio (Lucho) ou pelo volume (Helton).

Diria até mais: com um tipo à semelhança de Pepe, esperando eu que não descambe para a pujança animalesca que só a pusilanimidade dos árbitros não condena e o proteccionismo mediático minimiza mal maior, o FC Porto pode fazer um jogo mais à frente, pressionar mais alto e ganhar metros ao adversário num estalar de dedos. Não é para já, no domingo, mas mesmo no curto prazo. Um tipo veloz atrás deixa os da frente mais posicionados à frente. Foi assim, reduzindo até a 3 a defesa, que Adriaanse potenciou Pepe e o FC Porto ganhou o campeonato quase em 3-4-3 e mesmo 3-3-4, com uma garantia defensiva de tomo com Pepe e complementada com Bruno Alves. Pois bem, não me escandalizaria que com os centrais que temos, Mangala incluído, algo pudesse ser repetido pelo menos no campeonato, como foi com Adriaanse e este já depois de perdida a Europa mas garantindo uma segunda volta empolgante - lá está, com uma equipa muito jovem... - que até fez a dobradinha.

Se Danilo, que não me convence nada a lateral, "quiser" e Vítor Pereira quiser jogar a médio, pois uma boa solução para escolher três de quatro (nem contando com Rolando, apenas com Mangala, Otamendi, Maicon e Abdoulaye) e reformatar a equipa. Isto é um devaneio meu, reconheço, que aponto como tal e não como uma inevitabilidade. Porque sei que VP precisa de consolidar a equipa e, ponderado o avanço já registado, e natural, de uma época de aprendizagem para outra de afirmação, e natural também, não é de crer em tal cenário. Mas não é futurista como se de ficção se tratasse. Até porque raras são as equipas em Portugal que têm e jogam com extremos. Porventura o Benfica, agora com o John a par do Sálvio flanqueadores por vocação, será o único a impor essa precaução de laterais defensivos, acabada a ideia de Gaitan e o Pisa, Pisa irem à linha. Como não percebo nada disto não faço, obviamente a campanha para denegrir VP porque eu é que sei. Mas no caderno de encargos pode ficar uma folha em branco para ponderar uma emergência. E de tal forma que, redesenhando a face do ataque portista, Danilo a correr o flanco do meio para a frente retiraria James do flanco e poderia concentrá-lo no meio, com Moutinho, Lucho, Fernando/Defour e James, dando espaço e corda a Danilo onde mais rende (a defender é fraco). Mais: com esta variedade é de lembrar a tendência ofensiva de Alex Sandro como mais um a dar outras virtualidades a uma equipa de ataque, e de posse, como quer VP. Reitero que este cenário nasce do pressuposto de três centrais a actuarem no campeonato. De resto, Helton ele mesmo é um bom líbero, como mostrou em Kiev.
 
A bluegosfera também não primou pela perspicácia, o que também não admira. Está demasiado formatada na leitura da Imprensa que diz abominar mas de insindicável consulta. Por isso foi preciso, com alguma antecedência, A Bola dizer que o jogo 1000 de Pinto da Costa vinha aí no campeonato. Ou que a inútil Lusa venha dizer, hoje, depois de A Bola na sua edição em papel mas que não dispensou o JN de reproduzir a coisa, que o FC Porto é desde ontem a única equipa europeia sem derrotas entre as envolvidas também nas eurotaças. São os pequenos pormenores, que se não dispensam o muito trabalho de casa, agenda e reflexão, mostram os constantes falhanços em que andamos, perdendo-nos em coisas estéreis e até idiotas. Vão ver que o outro marco milenar do presidente vai escapar por aí, se alguém mais atento não der o lamiré ou o pasquim mais ordinário e odiado não ajudar a fazer manchetes a posteriori.

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