28 maio 2012

Entrevista ao primeiro ano de... estreante

Primeiro li aos bocados, excertos da bluegosfera. Depois em papel, calmamente, no café. A entrevista de Vítor Pereira é das melhores dos últimos anos. Porque tem sumo, fala de futebol, do Moutinho, do Hulk, do Falcao, dos movimentos, do colectivo. Ênfase, sempre, no colectivo. Preocupação, sempre o ataque a pensar como vai ser, tal como o posicionamento de James que sempre se viu avesso às linhas mas também não podia "competir" com Hulk ou sobrepor-se-lhe. Não há uma única palavra para a defesa, nem o Helton capitão. Ninguém reparou, pelo visto. Porque a entrevista pareceu correr livremente, sem predisposições, preconceitos e pré-avisos de não se tocar nisto e naquilo. Falou-se de Álvaro Pereira e Cristian Rodriguez? De Rolando? Da braçadeira? A única referência, indirecta, à defesa é sobre Maicon - para ilustrar outra coisa, a primazia do colectivo, de tal forma que, como Maicon a lateral-direito, Hulk foi amíúde a melhor opção para ponta-de-lança. Mas faltou expor algumas questões de jogo, as bolas paradas, algumas rotinas com e sem Fernando, os desequilíbrios defensivos mais notórios na Europa - apesar de um pedaço de texto na entrevista.

Digo das melhores entrevistas dos últimos anos porque, apesar do adjectivo, não me lembro da última assim boa. Jesualdo foi uma pena, AVB uma ausência talvez por força das circunstâncias, ele que de certo modo era igualmente estreante, talvez pela sua aversão ditada desde o início: não daria entrevistas!

De resto, o homem, tanto como o técnico, ficou exposto. Por ser o técnico do campeão nacional, estreante no primeiro escalão. Não gosta de mediatismo e acaba assim, a confessar as suas fraquezas, mais do que as suas forças que se resumiram a uma coisa: convicção no que fazia. O resto, enfim, era, como sempre, esperar o máximo dos jogadores e viver na sombra do êxito de 2010-2011, sombra que encobriu vários problemas que os êxitos camuflaram, como ele mesmo diz. Como diz o que, na verdade, já se sabia: os problemas de entrar à pressão, das mexidas do mercado, da turbulência pelos... êxitos. Obviamente, tinha de merecer o apoio da "estrutura", essa entidade evocada toda a época e praticamente não aflorada na entrevista.

Uma bela entrevista de um homem sincero e sem papas na língua mas que aprendeu a conter-se. E, mesmo falando de tudo, conteve-se. Recuperou as desculpas a Jorge Jesus, mas este nunca aprenderá e saberá o dom da humildade e hombridade. Vítor Pereira mostra ser homem em quem confiar. Mas não pediu, ainda, desculpa por ter-se estreado da forma que foi e com o resultado que se sabe. Alguns portistas ainda não se aperceberam disso, cobram-lho como se estivesse ainda a 10 pontos do 1º lugar e prometem atazaná-lo na época que vem. Imaginem que certos grunhos tinham um treinador bronco, um presidente do nível dele e ambos perdedores por natureza...

Mesmo assim, li por aí apreciações de quem nem confia que ele continue no Dragão em 2011-2012. E ao fim da sua época de estreia na I Liga e com o mais cotado clube português e a hegemónica equipa do FC Porto, também há quem  evoque a sua impreparação no domínio comunicacional.

Obviamente, no momento, estamos pendentes de saber se Hulk fica ou sai. Não é para onde vai, que interessa-nos pouco.VP diz estar preparado para perder Hulk. Mesmo assim, está optimista. Acho-o muito optimista. Mas ele melhorou a arte de comunicar e, claro, não ia agora dar parte de fraco.

Os portistas é que não o percebem. A maioria, na bluegosfera, limitou-se a replicar toda a entrevista. Quase nenhuma análise ao conteúdo, quando muito um ou outro parágrafo sublinhado. E não se percebe se o FC Porto perder Hulk como vai ser depois?

Não sei se VP percebe, mas tem de ser dos primeiros a sabê-lo. Porém, está pendente. Como todos.

Ficou pendente da saída de Falcao. Tanto que aponta a prioridade da próxima época ser... um ponta-de-lança. Obviamente. Mas, se Hulk sair, como vai ser? James pegará na batuta, ok, mas chegará para a exigência?

Ficam para mim estas questões no ar. Deliberadamente ou não, o alarme toca um bocadinho, mas poucos não se dão conta. Talvez seja verdade a asserção, de VP, de que a próxima época haverá mais estabilidade e a equipa terá mais força, não se dispersando tanto com os rumores do mercado e os humores de circunstância.

Extraio daqui também o mais importante. Porque os "muitos sapos que tiveram de engolir" incluem seguramente muitos portistas. Forçosamente muito entalados até poderem desatravancar a coisa... Até porque se VP não teve a condescendência - esperada dos seus próprios adeptos portistas - para o ano de estreante, 2011-2012 poderá ser escaldante, mais do que foi esta época.

Como ele é um homem de fé - e sem direito à privacidade devida após o fim da época, na sua caminhada peregrina a Fátima, devassada ironicamente após a notícia de O Jogo -, espero que a equipa seja forte como ele antevê. Gosto de seguir homens de fé, mesmo que não a partilhe, do que demagogos e vociferantes de mundanidades. E VP revela-se um homem normal, não se pôs em bicos de pés com o título como outros no único que ostentaram um dia. Não quer ganhar a Champions dê por onde der, apenas fazer melhor figura que esta época finda ficou desfigurada por pormenores (sic).

Uma entrevista moderada e modelar que devia ser consumida da mesma forma. Feita sem pressão deixou o homem mais à vontade. Reveladora. Positiva. Mas sem protagonismo para que o título parece despertar.

Mas a parvoíce não tem limites e a forma como foi treslida, e até com outras notícias de possível saída "bebidas" pelos pataratas do costume, revela tanto de quem lê, quando muito se discute do que se escreve e a qualidade do jornalismo tuga. VP diz uma verdade notável mas que passou despercebida e acaba por ser a força avaliadora do êxito e a sua responsabilidade enquanto líder da equipa: se fosse treinador para ver o que os outros vêem, Hulk nunca teria sido pdl e Maicon ld. Os resultados são conhecidos e a patética indignação com certas opções ficou no cinzeiro, nem no tinteiro... Os treinadores de bancada perderam, se é que alguma vez ganharam. O único responsável assumiu as suas opções e ganhou, daí todo o seu mérito como sempre defendi. É como assistir aos jogos e não compreender a razão de ser de opções do treinador. É nessa perspectiva que avalio sempre os jogos e os jogadores, da mesma forma que aprecio a entrevista que tem mais passagens importantes que não suscitam destaques nas chamadas de capa ou dos blogues.

VP diz que quer ganhar mais coisas. No FC Porto. Assim a sua fé o anime e o trabalho dê frutos. Porque também só acredito em trabalho e dá trabalho ser campeão e até ler devidamente uma entrevista. VP tem uma cláusula de 18ME e não será um potencial interessado como o Olympiacos a batê-la, não tendo seduzido Domingos de borla... VP é indefectível portista e não trocaria a sua verdadeira cadeira de sonho por um qualquer Atlético de Madrid, passe a expressão já popularizada. Trocar o FC Porto por um clube de média ou igual dimensão não o fará dar o passo que AVB deu e do qual ele se demarcou - porque nada deve a AVB e quem o contratou, antes, foi o FC Porto, como se sabe mas parece ter sido esquecido.

O estreante passou, sem cábulas. Foi genuino, ele próprio (salvo as excepções das quais se retractou) e decerto aparecerá com outra dimensão na nova época. Fico satisfeito pela evolução sem lhe pegar no calcanhar de Aquiles tão fácil de atingir num novato.

Com um treinador mais forte, individualmente e pelo estatuto de campeão com grande mérito, a equipa só poderá beneficiar. Para comportamentos menores tidos com o estreante já bastou. Os macacos que seriam campeões continuarão tão agarrados aos troncos altos em que debitam vulgaridades e dislates iguais como os burros carregados de livros só para lerem um papel dactilografado armados em doutores e até juízes só do foro em que zurram viciados.

1 comentário:

  1. Curioso o facto de ninguém, até agora, ter comentado, nem para concordar nem para discordar. Parece que a carapuça serviu a muito bom portista. Ou os sapos engolidos foram indegestos?

    ResponderEliminar