17 abril 2012

Os 30 anos seguintes

Escrevo, como quase sempre, por antecipação; corro o risco de errar, de ter de corrigir, de falhar o alvo. Mas assumo-o e acredito não estar enganado.
Hoje completam-se 30 anos da eleição de Pinto da Costa como presidente do FC Porto, cargo só depois assumido a 23 de Abril de 1982, salvo erro. Já vi por aí tantos elogios, justos; escaparam-me exemplos de alguma crítica, irrazoável. Os crentes, os aduladores são assim. A massa crítica tem outra ponderação. E vê para além, se, entretanto, não ficar refém de prebendas e comendas tal como acantonadas críticas de outras eras. Ai se fosse ao arquivo rebuscar críticas de então a pugnar por uma libertação do jugo pintista...
Como vivi, até intensamente em muitas fases, todo o percurso, e já sou do tempo de muito antes, de uns 10 anos antes, passo sobre o que os mais novos exaltam agora. Para os mais novos, o filme dos 30 anos que muitos não viveram seria um êxito, afinal o FC Porto já tem meios de produção e gente da área mas o risco de fazer algo sensaborão é grande do tamanho do amadorismo e gente timorata que de si nunca deu grande coisa.
Pinto da Costa merece os êxitos conseguidos e um dia terá a estátua merecida no Dragão; ou, como é imodesto, uma frase marcante, pode ser a da paixão, ambição, competência e rigor, mais ou menos assim, ou arranja-se outra para lá do "A vencer desde 1893". Podia ser "Ganhar em Liberdade" que foi o fio condutor de mais uma Revolução portista - que o País centralista teme e abomina, mas já não trava - a dar uma lição ao Portugal do comodismo e absolutismo da capital em que desgraçadamente se centra. 

O FC Porto é o mais pujante vencedor clube do Desporto português, com domínio nas principais modalidades e a superioridade em futebol. Aquém e além fronteiras. Vivi praticamente todos os grandes momentos e ainda em Dezembro evoquei a primeira Supertaça desses 30 anos com 4-1 ao Benfica depois e 0-2 na Luz.
Para mim já não é o mais importante, só o título que vem a seguir. Penso nos 30 anos que se seguirão, uns poucos com Pinto da Costa, a maioria sem ele e nem todos chegarão a ver 2042. De momento, para já, sobra um clube enorme arrastando inerentes pedregulhos que ameaçam, como a todos, paralisá-lo. O orçamento cresce a níveis impensáveis e os frutos, como os lucros, são uma miragem: pagar para andar à tona? A SAD encobre problemas profissionais em negociatas pouco claras e o fracasso de Benfica e Sporting nesta área devia alertar-nos mais um bocadinho para os perigos da deriva que, ao mesmo tempo, retira a base nacional de suporte do plantel com o desinvestimento interno que retira um pouquinho de identidade. E é de Identidade que se deve falar no FC Porto, não pelo bairrismo que é conversa para boi dormir, mas de projecção sem perder as raízes naturais nas quais se ergueu o clube no qual os sócios, na sua maioria, se revêem mas em que estão tão à margem em associativismo como relegados a meros espectadores a quem se liga pouco e a quem se entretém tão pouco antes e no intervalo dos jogos no Dragão.
Ficaram para trás - talvez silenciados na entrevista marcada para hoje no canal do clube que promete prolongar a efeméride durante a semana - também muitos erros, muita teimosia, muitos passos em falso, falhas clamorosas e tempos até indecorosos. O saldo é, porém, positivo e o regozijo dos Portistas é enorme com toda a razão em força e a força da razão. Ora, é esta que não tem prevalecido.
Os 30 anos que temos pela frente, obviamente, ninguém os pode antever, pelo menos para além do Museu a erguer neste mandato e no máximo mais um mandato já na forja. Esse pode ser o último erro de gestão dos muitos que se têm repetido.
Gestão polémica em muitos aspectos que poucos recordarão. Gestão, no momento, que passa por falar do futuro do treinador que tantos querem ver pelas costas sendo uma aposta pessoal do presidente que não pode correr o risco de se desmentir a si próprio.
Como dizia Drucker, agora que passa o 110ª aniversário do nascimento do pai da gestão moderna:
"O teste derradeiro ao bom gestor é o da sucessão".
Não creio que haverá novidades, apesar de ser feita a pergunta de algibeira com a resposta costumeira. E é sem essa esperança que vou, sem grande espírito, tentar assistir ao programa. A maioria nem perceberá isso e dificilmente aceitará a "revelação" de Vítor Pereira continuar. Não conhecem Pinto da Costa e, por isso, não imaginam o futuro sem ele. Eu nem imagino, com o enfado, sequer ver a conclusão da entrevista.

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