07 fevereiro 2012

Dar na bola e esconder o jogador

O Google evoca hoje os 200 anos de Charles Dickens e um dos seus romances, Oliver Twist, parece adaptar-se integralmente à situação de engano e (má) percepção vivida pelo jovem que uns bandalhos tentam transformar, sem sucesso, num ladrão.
Acho giro que muitos adeptos do FC Porto, e nem questiono a bondade dessas opções, aproveitem elogios de onde menos se esperam.
Este caso não é único. Há escritos em A Bola replicados por aí, talvez, talvez, mais do que de outros pasquins ditos desportivos. Será por ser um título em devida conta? Será pela publicidade, mesmo que tomada por cada tiro no pé, que o FC Porto faz a cada título, tomada de posição ou simples escrito no jornal igualmente popularizado pelo endereço da Travessa da Queimada?

Não sei, como não sei onde muitos destes portistas leitores assíduos de A Bola, renegando-a como o muçulmano, ou judeu, foge do toucinho, aceitam passivamente mesmo o escrito onde se insere uma verdade por tantos adeptos negada. António Simões dizer que Walter e Kléber não valem uma perna de Falcao é capaz de ser exagero, mas essa expressão - ou similar, como "não valem meio Falcao" - é-me familiar. Tão familiar, para mim que sou distraído e demonstro frieza própria de quem vê as coisas à distância e essa expressão já me parece perdida no tempo, como a confiança crescente, para não dizer cega (e parva, ignorante), que quase todos tinham, alguns ainda enfatizam que têm e, sim, acreditam, de Kléber ter potencial e vir a ser um grande jogador ou pelo menos um ponta-de-lança visível e não aquele que se esconde.
Ainda há dias em conversa com um amigo da Gandra Herzegovina, por acaso a propósito de outras Paixões e Roubos de Catedral, falávamos da fé num ponta-de-lança de jeito.
Da mesma forma que uns pategos acham que a Comunicação Social não quer nada connosco e, ao arrepio das obrigações dos tempos modernos de captar atenções num mundo competitivo, o clube nada faz por tê-la, também esse meu amigo de visões um tanto ou quanto exacerbadas até para o meu gosto dizia que em Barcelos só um cruzamento de jeito chegou ao Kléber e no fim do jogo. Eu, que até só vi, mal, a meia hora final, podia perguntar-lhe do sucesso desse cruzamento de jeito. Mas preferi falar com dados mais gerais e não com um casuístico, e lembrar que normalmente eu via o Kléber escondido atrás dos defesas contrários e quem cruzava para a área decerto, ao nível do relvado, não devia vê-lo sequer, pois seria difícil entre tantos defesas e ele atrás deles... OK, o Jorge gosta sempre de ver as coisas pelo lado lúdico... mas é notório que o homem não se via. Os que ainda não leram bem o escrito de A Bola e aqueles que esperam ver Kléber no futuro a marcar muitos golos talvez aprendendo com Janko o que não pôde com Falcao, divertem-se com outros rodriguinhos. Quando dão por ela, dois dias depois, ainda estão a falar da expulsão do maritimista na Luz. Tivesse sido Duarte Gomes, e não Artur Soares Dias ou Bruno Paixão, a fazer aquilo e o FC Porto far-se-ia ouvir e os mastins a latir por consequência que é bom seguir a voz do dono...
O meu amigo, exagerado como sempre, que também gostava pouco do Lucho com a agravante de dizê-lo mesmo ao meu lado no Dragão, acaba por aceitar que, afinal, não é por coincidência o que se tem passado com Kléber e o seu desaparecimento da equipa do FC Porto onde apesar de tudo vinha apresentando alguma contabilidade de golos.
Poderia este amigo fazer mais fé nos escritos de A Bola - não faz, estou seguro -, por serem pontualmente convenientes e tratar-se do jornal em questão. Faz-me lembrar, nos tempos em que não se ganhava nada, quando A Bola bissemanal chegava ao Porto às 7 da tarde de 2ª feira (e 5ª feira), só para lerem o que diziam os chamados "mestres" do periodismo daquele tempo, anos 70.
E talvez por estarmos já a brincar ao Carnaval com o "feriado" cortado liminarmente pelo Governo - indignando aqueles que só pensam no "não-trabalho" e em especial essa casta da Função Pública que tem a vidinha organizada e sabe de cor como as coisas decorrem -, é giro ver como se "engole" coisas que custaram meses a deglutir, mesmo que enfiadas à força de onde menos se espera. Mas com um arzinho poético e mansidão de maneiras até óleo de fígado de bacalhau vai. É que entre tanto enlevo e aceitação do que ali vem porventura os iletrados nem entendem o que lá está, clara e explicitamente ou mais dissimuladamente (o que dificulta a percepção aos menos atentos).
A máscara actual tem a cara de um austríaco alto e tosco de quem o ex-treinador, de Janko no Twente e do FC Porto também, obviamente só podia vir a dizer coisas bonitas. Qualquer brasileiro também fala do compatriota ou colega de equipa como se fosse campeão mundial. Só não sei, porque me interessa pouco para além de um "fait-divers", se Adriaanse, hoje em O Jogo, lembra o Vennegoor of Hesselink que pediu ao tempo ou se o jornalista lho perguntou. Porque os velhos vão perdendo a memória, às vezes até a desfaçatez, e não sabem o que disseram antes.
A mim só me preocupa por caminhar para lá... E não pensem que pretendo apoucar a autora do post remetido acima. O resto é Carnaval. Até o facto de reentrarmos na Liga Europa só com... Kléber a ponta-de-lança. Ninguém leva a mal.

1 comentário:

  1. já sou um pessimista crónico no meu dia-a-dia...de vez em quando sinto necessidade de injectar algum humor nos artigos. é para o lado que estiver virado, sinceramente.

    mas a jocosidade não altera o tema. não sei se o rapaz é bom ou não a cabecear, resta saber também se a bola lá chega em condições como dizes e bem.

    abraço,
    Jorge

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