10 dezembro 2011

Campeão melhor quando a perder, pois a ganhar ameaça seriamente deixar o adversário empatar

A exclusão de Kléber, além de Fucile, da convocatória para Aveiro é todo um tratado da nova gestão, profissional e objectiva, do futebol portista por parte do técnico Vítor Pereira - que assume a coragem que diz ter para tomar decisões! E os resultados dão-lhe razão, mostrando ainda porque é que a rotação sucessiva do plantel até há pouco tempo serviu para testar as potencialidades de todos os elementos, pois nenhum escapou à avaliação técnico-táctica; e já me parece patente uma conclusão racional e válida nesta altura em que um balanço mais pertinente deve ser feito e não em Setembro/Outubro como muitos se apressaram para "limpar a folha" ao treinador.
Belluschi voltou a mostrar-se sem estofo e sem rasgo para o meio-campo, onde acedeu agora pela lesão do convincente Defour. E de cada vez que Varela entra, sem entusiasmo e sem jeito sequer para a função, dá-nos arrepios sobre se serão boas e verdadeiras as memórias do ex-estrelista que há um ano integrava o demolidot tridente com Hulk e Falcao. Ao mesmo tempo, a limitada capacidade de Djalma, sem comprometer mas nada prometer também, reforça as dores de cabeça que perspassa qualquer adepto mais atento e interessado no jogo portista, pois começa a acumular-se tanto o excesso de flanqueadores quanto a imperícia e inconsequência da grande maioria deles. O 4x3x3 já é descentrado pela emergência de um jogador de apoio ao homem (circunstancialmente) de área, que é James Rodriguez a quem nem tudo sai bem mas tem fome de bola e vontade de brilhar e ser influente.

Sem flanqueadores em condições e sem ponta-de-lança inspirador, pois parece que teremos Hulk a nº 9 e o tal homem de Vítor Pereira que foi o melhor marcador do campeonato. Hoje deu a assistência para James empatar e marcou ele mesmo, em dois toques e uma finalização à matador, o 2-1 que subjugou o Beira-Mar mas não chegou para deixar a defesa portista como a menos batida da Liga. Tudo porque na zona dos centrais pingou um livre e o único remate dos aveirenses deu golo inesperado a meio da 1ª parte sem terem feito qualquer outro remate à baliza de Helton.

Com James definitivamente talhado para nº 10 que Belluschi já nem ideia tem do que é, o futebol portista espraiou-se com tranquilidade, criando situações de golo negadas por Rui Rego. O 1-0 momentâneo era uma mentira mas sabemos que o futebol tem deste tipo de traições entre certos crimes que às vezes prejudicam a economia dos jogos e a verdade do campeonato. Hulk foi derrubado em frente à área e por pedir justiça viu um amarelo de Carlos Xistra. Brasileiro e árbitro albicastrense conjugados com um adversário de amarelo é mistura explositva como em 2009 se viu em Paços de Ferreira onde Hulk acabou expulso logo à 1ª jornada...

Valeu a compostura e seriedade portistas para dar a volta ao resultado, desmontando com paciência e jogo em toda a largura da cerrada defesa aveirense uma teia que justificava o estatuto de melhor defesa da Liga. Enquanto esteve a perder e mesmo quando durou o empate o FC Porto mandou na partida, criou lances de perigo, nem em mais livres laterais - aproveitados pelos aveirenses em cada encosto para "cavarem" faltas, a lembrar o outro jogo em Aveiro com o Feirense que deu 0-0 - esteve ameaçado. E o  2-1 surgiu com naturalidade e quase sem forçar a nota, mas sendo vincada e intensa q.b. a pressão ofensiva mesmo com a esquerda, mais uma vez, entregue a Álvaro Pereira que faz um trabalho árduo e solitário para servir de extremo sem deixar de recuar para defender.

A partir da vantagem, não mais o FC Porto criou perigo. A não ser para a própria baliza. Mesmo preenchendo o meio-campo, com Souza e ainda Iturbe que logo teve uma arrancada ao seu jeito de meio-Messi, o FC Porto deixou escapar a bola e os cordelinhos do jogo quase convidando o BM a empatar e nos instantes finais só por acaso tal não sucedeu, o que era um crime capital bem mais grave do que o golo inicial mas um castigo para o "deixar de jogar" e de procurar o golo da tranquilidade não mais justificado após o 2-1.

Vistas as coisas pelos 25 minutos finais, meter Varela é cada vez mais uma leviandade para mais quando tudo se conjugava para uma estreia na Liga mais adequada ao jovem Iturbe que sabe tocar, segurar e passar a bola. O meio-campo deve saber, com mais unidades, jogar em posse defensiva e "descanso activo" sem se meter em trabalhos nem ceder a iniciativa ao adversário. Para evitar calafrios que acrescentem mau resultado ao mau tempo que marcou este jogo. E muito menos apagar o que de muito bom a equipa fizera até ter avanço no marcador.

Desta vez sem irregularidade, esteve para dar-se um harakiri fatídico como em Chipre. Não sei que explicação Vítor Pereira deu para esse abaixamento deplorável no jogo, mas convém continuar a apontar e assumir as falhas até quando se ganha. Porque de tudo o resto já sabemos o que anda e o que não funciona, e quem não trabalha, para a equipa. Mas os analistas apressados já não devem ter vontade de reconhecer as suas fracas e deslocadas avaliações, esvaziada a pressão sobre Vítor Pereira que me parece bem consciente da árdua tarefa de fazer uma equipa ganhadora do pouco que resta em mentalidade competitiva e esforço colectivo colado a custo e ainda ameaçado por desfazer-se em cacos.

9 comentários:

  1. Boas,

    Hoje vi duas partidas de futebol, uma aqui ao lado que foi um grande jogo de futebol que o Barça ganhou com todo o merito vergando mais uma vez o real na sua casa, outro aqui mais perto que considero um joguinho.
    O Porto ainda não consegue atingir o nivel do ano passado, ganhamos com justiça no entanto temos que jogar melhor, temos qualidade e atitude mas temos que ter um jogo mais ligado durante 90 minutos.
    Só uma referencia ao Otamendi ... por muito que ele seja defenda bem ... tem muito que evoluir com a bola nos pés ... a maior parte dos passes longos são perdas de bola, e das duas uma ou passes curtos ou então tem que ser muito trabalhado nesse aspecto.

    Mas a realidade da classificação é uma ... estamos em primeiro lugar.

    Um abraço

    http://fcportonoticias-dodragao.blogspot.com

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  2. A equipa fez um jogo bem conseguido, venceu e convenceu.A minha critica vai apenas para a insistência em Maicon.Acho que não tem categoria para jogar no Porto, quanto mais a lateral direito.
    Se repararem, o Beira Mar teve tres oportunidades de golo e o brasileiro esteve nos tres lances.No golo não marcou bem o chines e saltou por detras dele e o meia leca marcou, na segunda parte colocou em jogo o adversario mas o Helton defendeu e depois aos 49 minutos e 40 segundos(!) fez um atraso disparatado para uma saida precipitada de Helton que o avançado aveirense falhou!
    Acabámos por ter sorte numa belissima exibição de Moutinho, James Hulk e Cª que quase era traída po erros de principiante!

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  3. crónica perfeita. se continuas com a análise afiada e a sensibilidade perfeita, começo a pensar em deixar de escrever e ponho links para a tua opinião. fdx.

    abraço,
    Jorge

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  4. Desaconselho-te ambas, Jorge, ou faço-te um desafio mais exigente?

    Faz em vez de dizeres :) :) :)

    (brinco)

    A sensibilidade será sempre melhor se pusermos de lado a paixão e a irracionalidade, claro.

    Acho que resulda da evolução natural de quem segue as coisas com atenção e sem muita emoção.

    O caminho é que nunca tem fim, possamos viver o máximo para desfrutar o melhor.

    Mas sinceramente não percebo se não há mais comentários por concordarem ou por acharem que não vale a pena dizer o que seja...

    O que nunca faço é deixar de pensar pela minha cabeça, em vez de ir no rebanho, ou inventar uma coisa maluca a ver se pega melhor e a maralha faz e desfaz.

    É como diz o outro, às vezes escrever dói e torna-se incompreensível. Uma luta.

    Obrigado.

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  5. deixei de me preocupar muito com a quantidade dos comentários e mais com a qualidade dos mesmos. no teu caso, creio que pode ter algo a ver com a extensão dos textos, já sabes que nesta sociedade que nos pressiona o tempo como uma bota nos tintins, a maior parte do povo não crê que valha a pena perder alguns minutos a ler e prefere as frases fortes e rápidas de muito blog por aí fora. gosto de escrever e continuarei a fazê-lo, ao mesmo tempo que gosto do que escreves e espero que mantenhas o estilo. já em termos de racionalidade...é difícil manter a cabeça tranquila quando se está a escrever depois de um jogo do FCP, especialmente a ver mais um Real festival do Barça. enfim, venha a inspiração!

    um abraço,
    Jorge

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  6. O grave é que raramente vejo qualidade dos comentários. A quantidade tem só a ver com o facto de em geral dizerem sempre a mesma coisa. Também não é isso que me abala. É a apatia e o nivelamento por baixo. Já dou descontos ao facto de muita gente achar que tem uma opinião, quando mais uma avalizada...

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  7. não tenhas receio de estar a pregar ao vento porque não é isso que acontece. há malta de todas as origens e feitios a ler, o ecletismo parece-me natural, sinto o mesmo lá no tasco. a juventude dos visitantes também não é alheia ao perfil dos comentários que recebes, mas tenho esperança que as pessoas comecem a pensar pela própria cabeça e comecem a raciocinar antes de mandarem a primeira bojarda que lhes sai pela cabeça.

    Jorge

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  8. Acredito mais no que dizes nesta parte final, mas não tenho fé que façam o óbvio que está na base da falha estrutural que debatemos: a falta de leitura, precisamente. Não é em breves que se faz uma informação e são raros os Einstein que resumem o Universo a uma equação apenas com três símbolos - síntese absoluta e máxima, contudo, que requer muita mais informação do que o comum mortal pode aspirar a obter na vida.

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  9. Gostei de ver o Porto a jogar em posse contínua em frente à área adversária, mesmo (ou principalmente) quando estava a perder; gostei de ver James, qual Messi, a pegar no jogo pelo meio do terreno e a fazer de falso avançado centro; gostei de ver o empenho dos jogadores no jogo; gostei da exibição do Maicon, seguro qb a defender mas principalmente a colocar a bola na frente sempre com muito critério e assertividade, ao contrário de Otamendi e Fernando por ex.

    Não gostei da sorte madrasta (mais uma vez) que nos colocou a perder contra a corrente do jogo e sem o adversário nada fazer para o merecer; não gostei de algumas Xistralhadas que podiam ter custado caro.

    Sábado, jogo tão importante como difícil contra um Maritimo coeso que sabe jogar como poucas equipas (pequenas) em portugal.

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