27 novembro 2011

Assistir de cadeira e assumir a batuta (e um certo en...Fado)

Só não deu fuga por mero acaso, falhado o prognóstico de empate no dérbi lisbonense que foi bem justificado pelo Sporting na Luz. De resto, o FC Porto vincou superioridade com um valente Braga e o resultado final é tão enganador (3-2), para o que se passou em campo, como acabou por tirar ao FC Porto o "título" de melhor defesa do campeonato que parcialmente concretizou-se na partida em despique directo. Mas está claro  a terapia colectiva resultou, no choque térmico de Donetsk deu-se a reabilitação do corpo e da alma do Dragão e a semana que começou em cacos termina numa alegre cacofonia, apesar do laconismo do treinador no pós-.jogo em que terá sentido como quiseram agarrar o situacionismo dramático de um "one-off" em vez da recuperação filosófica expressa em campo.

Mas os golos finais dos arsenalistas são o prémio, inesperado no momento mas justificado na partida, para uma equipa que nem com 3-0 baixou os braços e os seus golos não surgiram do nada, houve boas jogadas e nem foi caso para Vítor Pereira recriminar tanto os minutos finais de uma natural descompressão competitiva portista que não pode negar o mérito dos minhotos. Equipa igual à de Donetsk, Djalma a perder algum medo ou "respeito", Maicon a sentir-se mais identificado a lateral-direito e mais comedido a subir, Defour a dar outra consistência e os médios mais complementares, deixando ao tridente ofensivo as contas dos desequilíbrios individuais que são marcantes quando o colectivo funciona melhor. O Braga não se rendeu e encurtou distâncias, apesar de o FC Porto ter tornado o jogo fora do alcance do visitante sempre incómodo. Com Hulk soberbo, a equipa sólida e solidária, entreajuda na recuperação da bola e abertura de linhas de passe para um jogo intenso e variado pelos flancos e roturas no meio, o FC Porto jogou ao seu mais alto nível.

Acabou 3-2 como na época passada. Mas, sinceramente, e ao contrário de algumas opiniões a respeito, achei esta partida mais vibrante e um resultado justificado que podia ter mais números. Na época passada, como defendi então, os cinco golos não valeram a partida, que não teve mais ocasiões de perigo e alguns golos até surgiram de nada e o Braga, de Domingos, arriscou pouco e marcou em dois remates à baliza (L. Aguiar de livre e Lima de bomba de muito longe). Desta vez, houve muitas situações de perigo, um golo mal anulado ao FC Porto, Quim a evitar mais três ou quatro e o resultado podia ser do tipo do hóquei em patins (6-3 ou 7-2). O Braga jogou de peito aberto, não tem o calculismo que Domingos lhe incutiu mas só no final o seu esforço foi recompensado a fazer jus, também, à codícia de Lima (mais dois golos no Dragão).

Valeu um Porto reencontrado consigo próprio, já pletórico de confiança, maleável mas vertical nos posicionamentos e desmarcações dos médios e a solicitar sempre os homens da frente. Hulk bisou, num raro golo de cabeça à ponta-de-lança e um petardo ao seu jeito de canhoto, deu a Kléber para marcar, deu ainda outro a marcar que foi mal anulado e até cometeu um penálti, enchendo o campo. Voltou a ser o Incrível, de novo na posição 9 como em Donetsk mas com uma mobilidade, em apoio de costas para a baliza mas também a fugir aos defesas e abrindo espaços para os médios entrarem (subidas de Defour e diagonais de James).
Só faltou garantir a melhor defesa, fica igual à do Braga mas ambos ainda pior do que o Beira-Mar (6 sofridos), como igual está com o Benfica na frente mas muitos mais golos marcados o que dá um certo conforto.
Depois, apesar de o dérbi suscitar dos epígonos da comentadeirice lisbonense uma paixão tão assolapada como celebrar essa coisa do Fado, exultantemente propagandeado, cujo alcance é mais limitado do que uns ecos chegados a Bali (where else?) e a destinos exóticos onde costumam acontecer concursos dos mais extravagantes que rapidamente caem no esquecimento, a vitória do FC Porto teve mais significado do que a do Benfica. Portugal, ou parte dele que se importará com isso, celebrou o Fado, muito à base de imagens e voz de Amália, o que é demonstrativo da amarra com o passado com a colagem de Lisboa na presença do edil "abronzzato" como diria Berlusconi. E na conferência de Imprensa desta noite parecia que ainda ecoava o fado de Coimbra... Nada mais falso. O "Somos Porto!" ouviu-se bem. Os chamados "críticos" e outros que tais vão lembrar que "não está tudo bem", como se estivesse alguma vez em Novembro e o caminho não se fizesse caminhando.
O FC Porto teve um jogo em condições difíceis e um regresso da Ucrânia alongado, com menos descanso, e respondeu positivamente, mandando no jogo e mostrando frescura e merecimento da vitória. O Benfica sofreu imenso com o Sporting e teve bastante felicidade em não sofrer golos, caindo-lhe um do céu para mostrar que continua com mais força que jeito. Em termos puramente futebolísticos a ameaça do Sporting deve ser mais levada em conta. Já na troca de galhardetes dos vizinhos a coisa vai andando empatada e em patadas e luzes são sempre mais de clarões de revolta e foguetes ou veri-lights...

Nota estatística: ter melhor ataque e melhor defesa pode não significar muito se não for 1º, que o diga o Bayern que caiu para 3º na Bundesliga...É como isto, pouco significativo se não valer um recorde.

3 comentários:

  1. Quer no que respeita ao jogo do Dragão quer relativamente aos comentários marginais que faz de outros eventos da actualidade regional alfacinha, aparentemente descontextualizados, viajámos ambos na mesma carruagem.

    Felizmente que não vamos sozinhos.

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  2. A melhor defesa é a do Beira Mar, com 6 golos!

    Gostei muito de ouvir os comentários do SECultura a vincar bem que o fado é lisboeta e não nacional. Só podia ser um grande portista.

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  3. Está corrigido, Justiceiro, não tinha dado conta desse pormenor. Obrigado.

    Temos, então, encontro marcado a seguir em Aveiro para piorar a defesa do Beira-Mar...

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