09 maio 2011

Ainda Mourinho ou de como não se passa por cima de um fracasso cantado


Isto de escarnecer dos estrangeiros que escarnecem de nós e dizem quem somos e porquê vai tanto do Mourinho ao Sócrates: http://economia.publico.pt/Noticia/socrates-acusado-de-fazer-discurso-enganador-sobre-pacote-de-ajuda_1493328


Não sabem, porém, sequer quem é Luís Filipe Vieira. Adiante.


Vergonha é não só fazerem títulos assim cheios de "vergonha" e, pior, darem capa a um avançado que não marca sequer metade dos golos de há um ano na Liga, desapreciando a festa dos campeões nacionais e, ainda, mais um roubo perpetrado contra o FC Porto. Vergonhas editoriais que se alastram a outras peripécias e outros campeonatos e protagonistas.



Não resisto a meter este cartoon que já tem uns tempos e que guardei do excelente Mundo Deportivo, ilustrando bem uma "guerra santa", no caso fulanizando mas sempre com o choque Barça-Madrid em pano de fundo


André Villas-Boas, para já, não fica na história do FC Porto como o treinador que também ganhou todos os jogos em casa para o campeonato. A última vez foi Mourinho, em 2004 (17 jogos), antes tinha sido, creio, Ivic, em 1988 (19 jogos). As razões já ficaram explicitadas no post anterior. Mas nem nem essas causas para não se ter posto a cereja no topo do bolo, nem os registos estatísticos para a posteridade, parecem merecer mais atenção e debate entusiástico de portistas a quem é servido o ensejo de se pronunciarem. Típico de quem já está saciado de vitórias e nem se dá ao trabalho de se preocupar com incidências menores depois delas estarem no papo.



A época fantástica do FC Porto prosseguirá em mais três frentes distintas:



- acabar no sábado no Marítimo o campeonato sem derrotas, em parte dependendo do árbitro que amanhã o Vi-te ó Pereira designar;


- ganhar a final de Dublin ao Sp. Braga que só requisitou três mil bilhetes e corre o risco de ser evocada a final do Jamor em 2003 com a U. Leiria num mar imenso de adeptos portistas a encherem em 97% a lotação;


- depois a final da Taça de Portugal, aí decerto com adesão maciça de adeptos vitorianos que não deixam por clubes alheios o crédito de amor ao seu clube e que deve ser enaltecido.


Mais três finais para, ainda, mais um recorde português de 58 jogos competitivos/oficiais, algo a que muitos portistas nem passam cartão, entre a indiferença e a ignorância, quando não sem entenderem o significado destas conquistas que também o são a longevidade competitiva numa época extensa e arrasadora ao final da qual o FC Porto chega, como dizia há um ano um treinador bazófias, "fresquinho que nem uma alface".


E tudo isto são proezas actuais, correntes e do dia-a-dia do refrão "Esta vida de dragão, só dá campeão, ratarata, taratara, taratara".


Entretanto, gente que se empolga com coisas alheias e questiúnculas externas, mesmo acompanhando à distância e sem cuidar de saber todo o contexto, andou abespinhada com algumas incidências dos clássicos em Espanha entre o Real Madrid e o FC Barcelona.



Porque Pepe não tocou em Dani Alves; porque o árbitro não deixou o RM ganhar (como se tivesse arriscado algo para isso); porque o Barça joga muito mas é ainda mais ajudado, alegadamente; e cosi via. Um choradinho, amiúde uma indignação, mas a maior parte das vezes meramente uma tomada de posição sem sustentação factual. O "falar por falar" e mostrar um patrioteirismo bacoco porque estão um punhado de portugueses numa equipa (às vezes até isso é esquecido, como foi no Chelsea depois de Mourinho sair e lá terem ficado vários portugueses...).



Ora, os ecos do tétrico Madrid-Barça, em quatro episódios, não se esgotaram ainda. Por qué?, pergunte-se; porque há quem queira falar de futebol entre duas das maiores equipas do mundo e dos mais emblemáticos clubes do planeta. Aliás, a Imprensa tão estrangeira à coisa como a portuguesa, em vez de ir pelo esmiuçar da arbitragem e muito menos pelo que "prejudicou a nossa equipa", alinhando com a "central leiteira" que é a feliz designação dada à Imprensa de Madrid a defender os "brancos" de Chamartín, preferiu dizer, em uníssono, que ganhou a equipa que jogou futebol: nem foi a que jogou melhor, mas a que jogou, e só.




Depois, de todos os cantos, surgiram reacções, de Morten Olsen a Ottmar Hitzfeld, do L'Équipe à Gazzetta dello Sport. Agora, passado mais tempo ainda do embate da Champions entre os gigantes espanhóis, surgem mais dois ao barulho e sem contemplações. Sem contemplações como Wolfgang Stark não teve com a temerária entrada de Pepe a arriscar tudo numa jogada inócua como ontem o precipitado Nélson Oliveira fez a Moutinho no Dragão, com a punição merecida. E sem poupar nas palavras no tocante a denunciar o que é já a cruz de Mourinho esta época: frente ao Barça teve sempre medo, jogou encolhido e acreditou que se funcionou uma vez com o Inter iria funcionar sempre, assim derrotando uma das verdades consagradas do futebol, nem sempre o mau futebol ganha.



Tomem nota destes apontamentos de Mircea Lucescu e de Claude Puel. O primeiro foi cilindrado no Camp Nou com 5-1 e não mostra azedume; o segundo caiu em Madrid na Champions de onde há um ano eliminara o Real.




Lucescu cree que el Madrid ganó la Copa "porque es el equipo de la Corona"
El técnico del Shakhtar cree que “ganaron la Copa porque los árbitros les dejaron jugar muy duro”
Mircea Lucescu, técnico del Shakhtar Donetsk, analizó para L'Équipe Mag los enfrentamientos que esta temporada han disputado FC Barcelona y Real Madrid.
El entrenador rumano fue contundente a la hora de hablar sobre la final de Mestalla: “La clave del éxito del Madrid no fue táctica, fue la Copa del Rey. Éste último estaba en la tribuna y el Real Madrid es el equipo de la Corona. Los árbitros les dejaron jugar muy duro y en la Champions no hubiera sido posible”.

Claude Puel, técnico del OL, también participa en el reportaje y tiene una opinión similar: “La agresividad ganó al fútbol. En lo futbolístico no vi nada destacable. El Barça perdió la gestión colectiva e individual, ahogado por la dureza del rival”, explica el francés.
Lucescu también se sorprendió del planteamiento en la ida de semifinales: “¿Cómo puede ser que un equipo tan talentoso, poderoso y hecho a base de millones sea tan negativo? Confiado por los dos anteriores resultados, cometió un pecado de orgullo”.


Puel apunta que “la idea de Pep era dormir al rival y, tras la expulsión, dio un paso adelante y encontró su juego habitual para ganar en el Bernabéu”.



E dispenso-me de juntar mais sal na ferida já aberta pela crítica de Cruijff na semana passada e que retoma a ideia, ontem, de medo e cobardia de Mourinho a quem apelida de sofrer de "barcelonite". Mas esta parte já corre aí nos jornais online portugueses. Seguramente, muitos discordarão, é uma opção, mas acima de tudo insultarão e desvalorizarão estas críticas, falando de inveja, azia e coisas assim, o normal.



Técnicos reputados internacionalmente não se coibiram de, acima de tudo, mostrar a sua surpresa por aquilo que foi um escândalo de massacre defensivo que até a afición madridista deixou passar na "ida" da Champions no Bernabéu. Sobre a Taça do Rei que foi um festival de pancadaria bárbaro para intimidar o Barcelona, Lucescu não podia ser mais explícito, enquanto a Imprensa madridista salvificou o papel de Pepe que nem devia ter terminado a 1ª parte, nem sequer devia ter chegado ao ponto de ter cabeceado uma bola ao poste... E, por cá, houve quem exaltasse a cultura táctica de Mourinho que Lucescu resumiu ao factor "Taça do Rei".



Entretanto, às proezas históricas do FC Porto a Imprensa especializada cá da parvónia dá pouco realce. O costume a embrutecer adeptos e cada vez menos leitores... Agora parecem apontar baterias para Cristiano Ronaldo ganhar a lista dos melhores marcadores a Messi, com dois golos de vantagem do português a três jornadas do fim da Liga espanhola.




Uma maneira de exaltar o génio de CR7, que é notável e não menosprezado, mas uma forma de tapar o fracasso de Mourinho. Mas se quiserem ler o editorial de um director insuspeiro como Alfredo Relaño no As, que há dias aqui trouxe por outra matéria, vejam bem como um dos da "central lechera" sabe a diferença entre o bom e o óptimo e que Messi é intocável no pedestal.


Da mesma forma que me questionei, sempre, porque razão Jardel marcou mais golos do que nunca (38) na época em que o FC Porto marcou menos 19 golos no campeonato em relação à época do Penta, embora o desgaste competitivo tenha sido enorme e contribuído para a perda do Hexa em 2000, é bom que se atente nos números do Real Madrid comparando com a época passada.



Não só não atingirá os 96 pontos de 2011 (tem apenas 83 a faltarem três jogos); e apesar de CR7 marcar ainda mais golos do que há um ano na Liga das Estrelas, o Real Madrid dificilmente chegará aos 102 golos da época passada. Superou, então, os 98 golos do Barça, que terminou com 99 pontos. Ronaldo fez 26 (e Higuaín 27) e já leva agora 33 podendo bater os 38 golos de Zarra e Hugo Sanchez em eras diferentes. Mas o Real Madrid marcou muito menos golos agora (87).



Ao invés, sim, com 91 pontos o Barça ainda pode chegar aos 100 (99 há um ano) e com 91 golos pode também chegar aos 100 (98 há um ano). Em golos sofridos, o Barça conta 19 (contra 24 há um ano no final) e o Real Madrid leva 31 e está perto dos 35 finais encaixados na época passada.




Mais um caso para reflexão, ainda que duvide poder suscitar muito debate e, pior, que nos fóruns de rádio e tv alguém saiba disto e saia do habitual discutir da espuma das coisas.

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