01 abril 2011

Seguir o exemplo histórico do MELHOR CAMPEÃO DE SEMPRE

Há um ano, por esta altura, era uma berraria a proclamar a hipótese de o Benfica ser campeão no Dragão. Uma proeza e ineditismo que, não só não foi conseguida pelo medíocre clube do milhafre, parecia ser algo para figurar no atlas da nova descoberta da Lua, iluminando a sua face sombria.

Ora, na algazarra de capoeira de então, nunca foi referido que, sim, o FC Porto já tinha sido campeão numa visita ao Benfica e derrotando os encarnados no seu próprio campo. Prontos, não era, ainda, a Luz, mas antes o campo das Amoreiras, estava-se a 19/5/1940.


Agora, apesar dos ecos, tímidos face ao vozeirão de há um ano, de possível coroação portista na nova Luz, diante do Benfica e para lhe arrebatar o título, acabam por tirar entusiasmo à coisa, evocando que há 71 anos o FC Porto já conseguiu o que antes não se julgava ter existido.

Ora, essa história, que pesquisei agora nos arquivos, foi tão verídica quanto o facto de, com esse triunfo por 3-2 nas Amoreiras, na 18ª e última jornada de 1939-40, o FC Porto ter conquistado esse primeiro bicampeonato (após o de 38-39) com vitórias em todos os jogos, excepto um.

Assim, com mais percentagem de vitórias num campeonato superior à do afamado e tão celebrado Benfica de Hagan de 72-73 que cedeu dois empates, é claro quem foi o MELHOR CAMPEÃO DE SEMPRE.

Isto contesta, de forma clara, um título de A Bola aqui há uns anitos, que proclamava ser esse título do Benfica o mais maior grande do mundo e arredores. Não foi, pois não ganhou dois jogos. Embora terminasse sem derrotas, somando mesmo 24 vitórias seguidas até empatar nas Antas, o Benfica não superou o FC Porto que venceu 17 dos 18 jogos disputados em 39-40.

Em resumo, o FC Porto perdeu apenas no Campo Grande, antiga casa do Sporting. Foi por 4-3, com um golo sofrido a 2' do final e depois de os leões terem chegado a 3-2 num penálti inexistente sobre Peyroteo mas que o árbitro sadino - sempre uma marca indelével, a dos setubalenses que apita(va)m - marcou. Isso foi em meados de Abril, à 14ª jornada, terminando as 13 vitórias seguidas dos pupilos de Siska e em que pontificavam o madeirense Pinga e os croatas Kordnya e Petrak.

Porém, o FC Porto chegou à última jornada com a vantagem de ter ganho na Constituição ao Sporting por 4-2 e possuir mais um ponto do que os leões. Estes haviam cedido pontos só no Porto e no Restelo, fazendo 0-0 com o Belenenses. Mas cederiam novo 0-0 em casa com o Barreirense, surpreendentemente, enquanto o FC Porto ganhava nesse dia nas Amoreiras e acabava com dois pontos de avanço.

Dois golos de Pinga e um de Kordnya selaram o triunfo portista na visita ao Benfica e que celebrou o título nacional diante dos adeptos vermelhos. Curiosamente, deviam ter sido dois golos de Kordnya e um de Pinga. Com 2-0 ao intervalo e depois 3-1, o golo que deu a tranquilidade ao FC Porto foi anulado pelo árbitro, na circunstância de Santarém, a Kordnya, capaz de aguentar uma falta à entrada da área e marcar. Mas, beneficiando o infractor, o árbitro marcou falta, da qual Pinga rematou directo para o 3-1. O 3-2 chegaria mais perto do fim, mas sem impedir o FC Porto de ser campeão na visita ao Benfica.

Curiosamente, no mesmo dia, na Tapadinha, o Boavista perdeu o título da II Divisão por 3-2 ante o Farense.

Do FC Porto descobriu-se, então, essa proeza de ganhar no Benfica, há um ano nunca revelada.

Escamoteou-se qual foi o título com maior percentagem de vitórias, enquanto se enfatizou o campeão que logrou acabar sem derrotas.

Esse campeonato de 72-73, nos meus primórdios de seguidor do futebol, ficou marcado na memória por dois momentos, que só segui via rádio.

O primeiro, na 1ª volta, quando o FC Porto chegou a 2-0 e faltavam 15' para o final. Nunca percebi como perdeu 3-2. Na 2ª volta, recordo que Flávio empatou de penálti a 4' do final. E soube que o Benfica cederia no Atlético o segundo empate na prova (0-0) na penúltima jornada.

Para inspiração do FC Porto, que não precisa mais da obsessão do triunfo no domingo, aqui ficam os heróis das Amoreiras: Bella Andrasik; Pereira, Guilhar; Carlos Pereira, Anjos e Baptista; Pinga, Kordnya, Petrak, Gomes da Costa e António Santos.

A crónica do JN sublinhou a brutalidade dos jogadores da casa que chegaram a pôr fora do campo quatro portistas para tratamento. Não havia substituições, o FC Porto era conhecido pela sigla inglesa de Footb-Ball Club do Porto e o clube da Constituição. Guimarãis tinha esta grafia, tal como antes do presente acordo orográfico óptimo se escrevia sem "p".

Já com a II Guerra em marcha e as manchetes falarem das invasões hitlerianas da Noruega e Bélgica, além da França e Holanda, até à Primavera de 1940, era referida a inauguração do voo KLM, em Abril, entre Amesterdão e... Silvade, Espinho.

Era dado amplo destaque aos clubes do Porto, como Leixões e Académico (clube do Lima), e os jogos dos outros entravam na secção "Desporto a Sul", merecendo tanto destaque o tiro aos pombos como a chegada dos heróis das Amoreiras à estação de S. Bento. Porém, só duas fotolegendas e basicamente com milhares de portuenses nas imediações da estação de comboio marcaram o dia seguinte à conquista do bicampeonato, com referência apenas a quem discursou na sede do clube para a multidão que encheu a Baixa (presidente Angelo César e o capitão Santos). A multidão que se prostrava diante da sede do JN, na Baixa, para ouvir as incidências do jogo mediante o que era transmitido por telefone das Amoreiras para a Redacção.

Outros tempos, um dia histórico e incomparável.


Com esta história, já nem vejo o SIGNIFICADO de ganhar hoje. Afinal, já o "fizemos". Agora, basta não perder qualquer jogo. Campeões seremos sempre.


Como preparação, amanhã, um coelhinho assado no fogão a lenha, um espumante bruto e tratar da relva de tarde. Não é grande coisa, mas tem de estar aprimorado.

5 comentários:

  1. ..."Campeões seremos sempre"...



    És um verdadeiro Campeão !



    Abraço

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  2. Caro Zé Luís,

    Com tanta história e arquivo, diga lá qual foi o resultado mais desnivelado em jogos entre benfica e fcp.
    O Porto ganhou bicampeonatos na altura do velho senhor?! Como é possível?!Ainda por cima, 0 1º, em casa do Benfica! Não acredito!
    Não será a primeira vez que o porto vem à luz sem derrotas no campeonato. Até hoje, o benfica tem sempre conseguido manter seu o record (campeonato sem derrotas). Amanhã veremos. No entanto, o FCP de Villas-Boas já não será tão bom como esse de 39/40 .)

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  3. Caro Zé Luís,

    Não vi o jogo, mas acabaram-me de dizer que o FCP ganhou.

    Os meus parabéns ao FCP.

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  4. Acabou de ser referido na Sport TV o que vem escrito neste post: 71 anos depois o FCP volta a festejar o título em casa do Benfica.

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  5. Já cá mora, esta foi uma espécie de segunda conquista de Lisboa aos Mouros!...Por pouco que trazíamos as balizas, o relvado, o Estádio em peso cá para cima!...Nem com o apoio do "Duarte" eles conseguiram equilibrar.

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